quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

2013!

2012 está a fechar o ciclo, não acabou o mundo e muitas coisas se passaram.Uns gostaram, outros odiaram, porque neste tempo do EU o que nós passamos é o que importa, o dos outros posso eu bem.2012 trouxe uma crise profunda, não de valores mas de dinheiro. 2012 trouxe guerra na Síria e milhões de inocentes massacrados. 2012 trouxe de volta os meninos com fome a Portugal. 2012 trouxe a emigração dos mais qualificados para o exterior. 2012 trouxe pouca festa e pouca solidariedade. Mas mesmo assim 2012 trouxe mais um ano de vida. E eu, porque este é um tempo de EU, adoro Viver!. Adoro refilar, adoro queixar-me, adoro Rir, adoro ver filmes, adoro ver o mar, adoro os meus... Adoro viver! E tenho de adorar porque nunca experimentei fome na vida. Nem guerra.Nem terríveis desilusões.Nem morte dos meus mais chegados. Tudo o que a vida me trouxe eu pude suportar, bem ou mal, assim ou assado.
Por isso anseio por 2013. Porque a noite de passagem de ano nunca foi para mim uma noite qualquer: é a noite dos sonhos renovados, dos desejos mais uma vez formulados, de novas esperanças. É um recomeço e como todos os recomeços deve estar embrulhado em lentejoulas e brilhantinas. E champanhe. E beijos. E esperança!!
Portanto, Feliz 2013!Vamos viver a Vida!

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

As mulheres são queixinhas!

Há uma coisa que eu concordo com o sexo masculino: as mulheres são queixinhas. Sim, é verdade: as mulheres são queixinhas.Queixam-se dos maridos, provavelmente com razão. Mas nem é dessas queixinhas que eu vou falar hoje: são das queixinhas, queixinhas. De que está frio, quero ir para casa. Que estou cansada, quero ir embora.Tenho tanto stress no trabalho, não aguento. Hoje levei com chuva, estou a ficar doente. Estou triste, ando assim meia triste. Blá blá blá.
A sério, eu já não vos aguento! É porque está frio, é porque está calor, é porque nunca saímos é porque saímos. Se é para queixar, é para ser a sério: é porque não tenho o emprego que mereço à altura da minha fabulosidade! É porque não és tão bom na cama como estava à espera! Estou furiosa porque não tenho uma mala Channel! Está frio, e eu não tenho luvas de caxemira Gucci. Está calor e não tenho um fato de banho La Perla. Isto sim são queixas.  As mulheres que se queixam por tudo e por nada raramente São. Ser é demasiado difícil e exige tempo e carácter.  Coisas raras neste mundo: o carácter, não o tempo.O Óscar tem sempre razão: a maioria das pessoas apenas existe. E o problema da existência dos outros é que nós, os bons, coexistimos com estas existências. E estas existências nada mais são que queixinhas: porque a maioria das pessoas não sabe mesmo falar de mais nada. E fazemos todos esta conversa de treta para não magoar os que apenas existem. Mas como estou a ficar farta e a crise tem  coisas boas vou passar a responder: está frio, veste um casaco. Está calor, vai para a praia. Se estás aborrecida, não me aborreças. O teu marido é um chato, problema teu!  
A arte de queixar é uma arte. A arte de Ser ainda mais. Queixar porque não se Ser ,então é enfadonho. Eu sei que muitas leitoras não perceberam esta última parte:  não leia mais, este blogue é demasiado para si! Olhe, queixe-se!


É Natal, dá-me as minhas prendas!

Não gosto muito do Natal, nunca gostei. Aborrece-me profundamente os dias anteriores sem fazer nada, tudo fechado. Não tenho terra aonde me deslocar e, honestamente, esse fascínio do citadino que vai ao campo no Natal é demasiado ridículo para mim. Se eu fosse da terrasabia bem como receber os convidados.Oh, se sabia!
A única coisa que eu gosto do Natal é das minhas prendas.Sim, podem dar-me muitas e muitas coisas. Não se inibam, nem se acanhem.. E é tudo. Solidariedadezinha uma vez por ano não nos fica bem,  e a Popota irrita-me profundamente. Rinocerontes sexy para miudos é uma depravação. Além de que a rinoceronta é feia, para lá de feia. Cada vez que vejo o anúncio apetece-me ir reclamar ao Continente.Ok, vou fazer isso.
Odeio a frase o Natal é quando um homem quiser... E então e o Ano Novo e o meu bem amado Carnaval?? Nem pensar. Mil dias de Carnaval, um de Natal E o meu sonho é ir ao Rio de Janeiro sambar, não salvar o  Natal! Grinch devia ter sido bem sucedido!! E afastem de mim o aniversário do menino Jesus. Até  o Papa  já confirmou que o menino nasceu sete anos antes, em Agosto!
Por isso animem-me. Partilhem o vosso espírito natalício comigo enviando-me muitas prendinhas. Afastem de mim as frases feitas e a loucura das saudades que só apertam no Natal. Se me querem ver, sabem a minha morada, façam favor .  Ate lá, deixem o Natal para outros. Poupem nas saudades, nos abraços e nos postais. Não poupem no cartão de crédito e nas entregas em minha casa.
Se assim fizerem, desejo a todos um Feliz Natal!


segunda-feira, 26 de novembro de 2012

O amigo que é Ex, o Ex que é amigo

Dizia-me a minha mãe no outro dia:" A minha geração está a ficar parva como a tua! Agora são todos amigos!". Contava-me a minha mãe que uma sua amiga se tinha divorciado mas, apesar do divórcio, garantia que tinha ficado amiga do seu ex, e até lhe passava a roupa e tudo, não obstante o dito cujo já ter outra namorada. Mas estava tudo bem porque são todos amigos.Ora a minha mãe recusa-se a aceitar estas parvoíces.. E repetiu-me vezes se conta: "Homem que foi marido não serve para amigo." entre cruzado com " A tua geração é parva".
Ora, eu concordo com minha mamã. Primeiro porque me facilita a vida, já percebi que não a  vale discutir com a senhora: perco sempre. Depois porque também me mete muita confusão estas coisas desordenadas: o amigo que é ex, o ex que é amigo, ser amiga da namorada do ex, etc etc.. Não, isso não dá para mim.Porque se há coisa que não é razoável é o Amor.E não se pode quantificar nem qualificar. Quando há filhos à mistura,até  se compreende: é para o bem dos putos, há que engolir sapos. Agora se assim não for, , porquê ficar amigo/a de alguém de quem gostámos, de quem nos entregámos, e com quem, obviamente, sofremos um desgosto?
Não acredito na razão sobre a emoção. Gostámos, fica sempre qualquer coisa.Nem que sejam as más memórias ou as parvoíces: fica sempre qualquer coisa. E depois trazemos gente a mais para uma nova relação: olha este é o meu ex. Ah, esta é a tua! Boa, somos todos amigos.
Não, não funciona assim. O passado tem de ser limpo e arrumado. Multitasks no amor dá em confusão. E ninguém gosta de ter de ir jantar com a/o ex e o novo / a namorado/a.. Nem de saber que o nosso mais que tudo está a beber café com o/a ex. Na boa, são amigos!
Admito casos excepcionais, mas um em um milhão. Não, desculpem, um em um bilião.
Até lá estamos todos armados em modernos. Estamos todos parvos!

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Desculpe mas não quero!

Já vos aconteceu gritarem: Desculpe mas não quero? Creio que sim. A mim acontece-me inúmeras vezes. Até me sinto mal por não querer ou não poder comprar. Sinto-me muitas vezes pressionada para comprar porque a senhora até é simpática. Ou rapaz, coitadito, se eu não comprar fica triste. E a rapariga que me telefonou até parecia ser gentil. 
A empatia que se estabelece com as pessoas que nos estão a tentar vender coisas é tramada. E a nossa boa educação faz-nos sentir mal quando fugimos dos Srºs   do Barclays no hipermercado: "Desculpe mas não quero esse cartão com taxas abusadoras. Peço muita mas muita desculpa  Perdoe-me". Sentimo- nos   horríveis quando nos ligam dos bancos para nos fazerem mais um seguro que não precisamos: " Lamento muito muito, mas não quero. Mas lamento muito". E quando é um amigo que nos quer meter num negócio qualquer aí apetece-nos emigrar.Como dizer que não?
A nossa boa educação faz-nos temer o inferno se não comprarmos, se formos mal educados. Há algo que nos diz que não custa nada, mas mesmo nada subscrever aquele seguro/ contrato  etc. Não nos custa nada fazer esse favor.E de favor em favor, ficamos endividados e sem saber o que fazer.
Os portugueses não consomem demais não. Os portugueses são é muito bem educados!

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Churchill

Estamos quase, quase a perder as estribeiras. Furiosos, irritados, apáticos ou revolucionários estamos todos no limite da paciência.É verdade que alguma coisa tinha de mudar neste país azul mas com mentalidade cinzenta.  A ordem " natural " das coisas tinha de ser abalada.Isto de se estudar e depois ter um bom emprego é coisa do passado.  O que é novo é que se estudar e depois ter um mau emprego também é coisa do passado.Agora o in é não ter emprego nenhum. Há tanta gente IN.
O problema grave, muito grave é que não temos um Churchill por cá. Ninguém com sentido de humor e amor pela pátria. E pouca predisposição para a subserviência a  Alemães e "coisa" do género.Precisamos de uma boa piada na altura certa, uma magnífica cachimbada e muito sentido patriótico. Ressalva: também não gosto assim tanto de Ingleses. O mapa cor-de-rosa ainda me faz espécie, não perdoei!
Mas do Churchill gosto. De um homem que amava a cultura. Que tinha sido jornalista. Que escrevia bem. Que era insubmisso. Que não entrava em jogatanas nem em acordos.Que fez Hitler em frangalhos, contra todas as probabilidades.Precisamos de um Churchill para caminhar neste início de inferno onde nos estamos a meter. Que a União Europeia vai falir, isso é certo. E nos momentos de desespero, precisamos de um líder que nos diga para continuarmos a atravessar este inferno, porque o que está no fim da linha vale a pena: cultura, poesia, amor, democracia, direitos iguais, um país livre e soberano.
Precisamos desesperadamente de um Churchill. Onde é que podemos encomendar um, se faz favor?

Never, never, never give up.!
Chrchill, who else?

Winston Churchill
 

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Jonet e os "Outros"

Não há sustentabilidade a nível da Europa, temos de aprender a viver com pouco, os meus filhos lavam os dentes num copo de vidro, temos de optar entre entre um concerto de rock e uma radiografia... Jonet dixit. Só falta acrescentar esta é uma "crise de valores".
O que é Jonet? Uma Choné. Uma propagandista  de uma certa filosofia em que não somos todos iguais, gastámos demais ( quem gastou??)e estamos a viver acima das possibilidades.
Por isso não temos direito a uma radiografia paga pelo Estado Social e não podemos ir a um concerto de rock, ou os nossos filhos não podem.Os filhos de Jonet vão? Aposto que sim.
Então para que serve o Estado Social? Para que servem os nossos impostos se nem temos direito a ir ver um concerto? Mas o Rock em Rio não é para Um Mundo Melhor e a Câmara de Lisboa não o patrocina? E se o concerto tiver sido agendado por uma empresa não devemos ir vê-lo, contribuindo assim para fluxo de dinheiro e reanimação da economia?Não, temos de pagar a radiografia. De preferência com o seguro de saúde da Médis ou outra coisa assim.
Jonet e outros estão muito felizes com esta crise, não tenho a menor dúvida. Assim fica cada um no seu lugar, uma certa gente aprende a se comportar e a educar os seus filhos: Não podes ir ao concerto porque o Estado Social não paga a minha radiografia. Filho, somos pobres habitua-te. Estende a mão às senhoras que fazem caridadezinha.
Jonet é o espelho desta política desigual e oportunista. Desta política insensível ao outro. Jonet e estes políticos são as pessoas que estão na janela sorrindo ao pobre, sentindo-se caridosas.  E estão felizes, muito felizes porque sabem que o pobre é criação sua, uma sociedade perfeita em que cada qual fala apenas com o seu igual. E o mal dos outros assenta-nos tão bem, somos tão caridosos.Agora deixem-me arranjar, pôr os brincos de diamantes e o vestido de noite porque tenho a gala dos pobres no casino do Estoril!


" A solidariedade converte em direito o que a caridade dá como favor. "

José Ingenerius.


Dar, caridade

sábado, 3 de novembro de 2012

Carta Aberta à Insensibilidade






Vivemos tempos terríveis, absolutamente terríveis. Desemprego, miséria, aflição, desnorte. Poderia ser esta frase a abertura de um programa do Artur Albarran, mas não é. O medo, o caos e a tragédia caem sobre nós.Não há emprego, não há dinheiro, não há ambição, não há futuro.  Este é o estado da nação.
Mas o que me doí mais a alma é a estupidez constante de muitas pessoas. É a política baixa, o insulto constante, o recordar de um passado como justificação de um futuro. As políticas estão todas erradas, isso já sabemos. Mas andar constantemente a dizer que a culpa é do Sócrates, do Soares, do Cavaco, do Salazar e da dinastia de Bragança é estúpido, estúpido, estúpido.Posso não simpatizar com o D. João VI, mas o ouro do Brasil já está velho para levar com as culpas.
Toda a gente sabe que a história nos ensina coisas mas, muitas vezes, a história não nos ensina nada. E não ensina a ultrapassar este crise sem precedentes, sem respostas e sem sentido.
O país não aguenta mais austeridade, ai não aguenta,  não aguenta. Mas sobretudo o que este país não aguenta é a falta de compaixão.A falta de compaixão por uma menina de 5 anos que foi impedida de comer na escola. A falta de compaixão pelo trolha que não consegue trabalho. A falta de compaixão por licenciados em  cursos que não dão, na actualidade, colocação profissional. A falta de compaixão por quem perde uma casa, muitas vezes quase paga aos bancos, e não tem para onde levar a família. A falta de compaixão pelos ciganos sem perceber as dores de muitas daqueles mulheres e homens e do que é pertencer e não poder fugir a uma comunidade. A falta de compaixão pelo seu próximo.
Este é o drama e a tragédia de um país que aceita que se corte 10% ao subsídio de desemprego dos mais pobres e não dos mais ricos. De quem aceita que se dê de volta a pensão de pessoas que descontaram toda a vida. Dar de volta o quê? O que é delas?
Este é o drama de um país que acha que os deputados são mal pagos. Este é o drama de um país que exporta os seus jovens, os melhores.
Este é o drama do meu país. E é provável que quando eu voltar a escrever, já não exista país nenhum para falar.Porque a estupidez deve ter ganho a batalha!

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Opiniões a mais

As opiniões são como as cerejas.Creio que toda a gente gosta de cerejas, já que de opiniões nem por isso. Porque as opiniões nunca são apenas isso: um opinar, um pensamento sobre o tema. As opiniões são sentenças, com validade inquestionável. Eu opino, tu obedeces.
Há opiniões jurídicas, opiniões médicas, opiniões políticas e todas elas tem um carácter sagrado: são sempre certas e sempre para cumprir.Depois há as opiniões morais, daquele género manso: "se fosse comigo eu não fazia". Aqui aplica-se a lei das premissas filosóficas verdadeiras: Se fosse comigo eu não fazia, Tu fazes, logo... ( preencher a gosto, usar adjectivos sempre negativos). A premissa  filosófica verdadeira raramente está correcta, porque muito boa gente que não fazia, já fez ou está para fazer. É uma opinião, lá está, portanto com carácter verdadeiro e oficial.
Mas as minhas opiniões preferidas são as de um novo género; as opiniões psicológicas. Já repararam a quantidade de gente que queria, gostava, tinha jeito para ser psicóloga/o, porque gosta de ajudar os outros? E já repararam que essa gente nunca foi, na maioria dos casos, a um psicólogo? 
Estou tão farta dessas opiniões que poderia escrever um  Nobel sobre o tema, mas como estou tão farta fico-me por este texto.
As opiniões psicológicas estão sempre carregadas de sabedoria e boas intenções, têm sempre um modus operandi e acabam sempre em desgraça. Exemplos: " tens de falar com o teu pai, senão ficas com remorsos" . Causa: o pai saiu de casa sem conhecer os filhos. Resultado: os filhos é que devem restabelecer contacto para... não ficaram com remorsos!   Assim, à primeira vista parece-me estúpido,  opino que o remorso devia pertencer ao pais, mas deixo a história para ser analisada por um verdadeiro psicólogo.
Mas as opiniões mais dramáticas, chatas, aborrecidas, e verdadeiramente idiotas são aquelas em que tudo é psicológico" não andas bem por causa disto"," o stress é por causa de isto "...Mas nós não sabemos pois não? Quem nos garante que as causas não podem ser físicas? E porque é que temos sempre de ter a uma opinião ? Podemos garantir que a opinião é correcta? Não, claro que não. Acredito que muitos enfartes, AVcs e outros casos poderiam ter sido evitados se a pessoas não fosse inundadas com estes disparates psicológicos. 
Por isso apelo: deixam os disparates opinativos em paz e deixem os profissionais trabalharem. Esta é a minha opinião!

Não existe opinião certa. Existem certas opiniões. Seja livre e escolha a sua
Arthur Hisoka



quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Morrer por um ideal!

Chama-se Malala Yousafazai e foi baleada na cabeça esta terça-feira. Crime: defende a seu direito a estudar, a ter uma educação.Não só o defende, como o escreve. Com apenas 14 anos o seu blog (que escreveu sob pseudónimo até ao início de de 2012) onde defende o direito à sua educação e denuncia os atrocidades dos talibans sobre as mulheres, é dos mais lidos por todo o Paquistão. Disse que não tinha medo e que morreria por esta causa se preciso fosse: o direito a estudar, o direito à sua educação.
Muitos leitores associam estas atrocidades a países não desenvolvidos, a países Árabes.Mas esta não é a verdade.Na  Índia, em algumas tribos da África do Sul, Sudão, Bangladesh, Turquia, entre muitos e muitos outros Países,Estados, tribos e comunidades, a educação feminina não é apenas relegada para segundo plano  como considerada perigosa. Uma mulher deve casar, nunca pensar!
E nós Europeus? Nós aceitamos a educação feminina para as"nossas" meninas. Mas não temos a mesma consideração para com as crianças ciganas, por exemplo. Nem para as muçulmanas  Aí achamos que é a" cultura" ( a iliteracia é uma cultura?) que deve prevalecer sobre a educação. Aí aceitamos que são diferentes e, por isso, temos   de aceitar o protocolo sobre a dignidade.Oh, somos tão falsos!!
Por isso é que Malala Yousafazai é uma heroína para o Mundo e não só para o Paquistão. Não apenas porque enfrentou os talibans ( e a sua "cultura") , mas porque esteve disposta a dar a vida pelo mais alto dos ideais: e educação como seu direito, como forma de libertação. Porque a educação nada mais é que liberdade! E por este ideal, que  é também o meu e devia ser o Nosso,Malala Yousafazai esteve disposta a morrer.
Mas esperemos que não seja o seu caminho, que a sua morte não seja necessária. É o que rezo e espero.
Mas hoje, em seu honra, vou ler um livro como forma de protesto! Porque este é o meu direito e devia ser o de todos nós.


Picasso, meninas a ler.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Coisas simples como a Amizade.

Hoje, o meu país prepara-se, novamente, para ouvir medidas duras e difíceis. Não sabemos ainda quais são, mas sabemos que vão ser más.E que vão começar as acusações de despesismo, de que os portugueses consomem demais ou , pasmem -se, poupam demais.E que a culpa da crise é de todos e outras parvoíces do género.
Por isso,  hoje decidi não ouvir mais lengalengas. Volto ao meu mundo, onde vou pintar este dia com coisas cor- de- rosa, verdes, azuis, amarelas.
Portanto.. Pergunta de 1 milhão de dólares:O que é que eu tenho de real no mundo que não custa nada e me faz feliz? Bem, tenho os meus pais vivos. É um privilégio que raramente dou por ele pois para mim eles estarão sempre cá, mesmo quando sei que essa parte poderá não ser verdade. Tenho uma irmã mais nova que adoro irritar. Tenho um petit bombom que adoro irritar ainda  mais.
Tenho amigos e amigos de amigos. E os meus amigos são interessantes. Sim, estou rodeada de pessoas interessantes. Tenho as minhas amigas mais próximas que são tão diferentes umas da outras que se complementam. Tenho as minhas amigas mais distantes de quem morro diariamente de saudades.A distância estraga muita coisa, é preciso fazer um esforço para manter vivo o que vale a pena. Tenho uma amiga que conta sempre comigo para desabafar coisas inconfessáveis e eu com ela. Tenho amigos homens que me revelam os segredos da espécie. E que me provam constantemente que a amizade entre homens e mulheres é real e não o mito que os mais puritanos defendem.
Tenho amigos com convicções políticas e pessoais muito fortes. Tenho amigos que tentam mudar o Mundo e seguir a sua paixão sem vacilar. Não tenho amigos ricos mas devia ter.!! Tenho amigos que sofrem com esta situação, de que não tiveram qualquer culpa, e continuam o seu caminho sem remorsos.
Tenho amigos que enfrentam a exclusão e o preconceito diariamente e são pessoas cada vez mais Pessoa. E tenho muitos conhecidos de quem me vou, eventualmente, tornar amiga. 
E no meio de tudo isto é óbvio que quero mais coisas. Um emprego interessante e bem pago. Uma casa maior. Muitas e muitas Viagens. Mas essas são as coisas que o dinheiro pode comprar,  coisa que infelizmente não abunda por aqui.
Por isso, hoje vou apreciar o meu Património Imaterial,aquele que me faz uma melhor pessoa e torna melhor os outros também: os afectos, os risos, as confidências, as histórias, os desabafos, estes pequenos privilégios que não pagam imposto.
Porque num dia triste vou celebrar cada vez mais o que tenho. Sempre o fiz, sempre dei valor ao que dou aos outros e ao que os outros me dão. Mas hoje vou celebrá-lo.!!




Mafalda, Quintino, S/D.


domingo, 30 de setembro de 2012

A possibilidade da Guerra.

A guerra!  Pergunto-me  O que é a Guerra? 
Hoje, ao ver as manifestações em Madrid e Portugal, pergunto-me se não estaremos perto demais de  conhecer uma realidade que a minha geração nunca conheceu: a Guerra. A Guerra com letra maiúscula. Não a psicológica, a das intrigas, a da diplomacia económica, mas sim a Guerra. Aquela onde se mata e se é morto. Onde se defende uma causa e um ideal, seja ele qual for.
Neste momento, os discursos extremam-se. A extrema direita surge no seu esplendor:   a culpa é dos ciganos, das prostitutas, dos emigrantes. Basta ler alguns posts no facebook para que se perceba: o ódio está a surgir em cada esquina. Os que trabalharam ( quando? onde? ) não têm de pagar pelos luxos dos outros. Esses ladrões que não conhecemos mas que facilmente identificamos: os outros, os que não são como nós. Salazar era menos ditador que os seus homólogos Hitler e Estaline , até era um bom homem. E no tempo do Salazar não havia "isto": E o que é "isto"? A pobreza envergonhada? Ensino básico até à quarta classe e impossibilidade de sonhar mais alto?  Mulheres sem o direito de ler  as suas próprias cartas sem autorização do "chefe de família" ?
E do outro lado do vento também surgem sinais inquietantes.Estalinismo radical. O controlo total das nossas vidas pelo Estado, A solução para os problemas. 
Deixam-me esclarecer um ponto: sou totalmente a favor das manifestações  Aliás, participei em algumas. Creio firmemente na vontade do povo para sair à rua  e mudar esta política radical económica em que não se olha para quem está ao nosso lado, mas sempre para um futuro cada vez mais sombrio. 
Por isso apelo. Está na altura de todos pensarmos a Democracia. O que é, o que queremos dela. Quais as respostas que pretendemos para a contemporaneidade.  Como definimos as nossas políticas públicas. Como defendemos o Estado de Direito.O ensino. A saúde. Os direitos dos trabalhadores e dos empregadores. O direitos dos credores face a uma banca totalmente desregulada. No fundo,como mudamos o que está incrivelmente mal. 
Está na altura de pararmos de dizer mal da sogra, das amigas. Do chefe e da chefe.  Já não há paciência para conversas de bastidores. Já não interessa se aquela namorou ou não namorou com o x. E se aquele é um vaidosos que comprou o carro mais caro do mercado. 
Temos de tirar as Secret Stories da nossa vida e começar a pensar  a sério: Que mundo é este e como posso contribuir para o mudar?
Senão, serão aqueles das falinhas não mansas, os da ideologia fácil, dos insultos já gastos, que vão tomar o seu lugar na tribuna. Foi assim com Hitler, Estaline e Salazar.  E todos eles levaram  gerações de jovens homens a lutar por causas que hoje nem compreendemos o porquê. E antes que matemos o nosso amigo numa guerra estúpida, é tempo de pensar o mundo, os valores, os ideais, o certo e o errado. O tempo de pensar é Já!


Balada de um soldado ;  Autor desconhecido, cantado por Mafalda Veiga 


segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Futebol!

Futebol. Um simples jogo, nada mais que um jogo, revoluciona o mundo. Diariamente. Desporto mais jogado, mais falado, triplamente comentado: o Desporto Rei. Não há  nenhum que se lhe compare, por muito que os americanos com os seus milhares de desportos e ligas milionárias tentem. Futebol é amado na Europa, África ,Ásia e idolatrado na América Latina. O futebol cria lendas: Pelé é o rei. Eusébio faz as delícias das hostes Lusitanas. Ronaldo é o novo menino de ouro e Messi faz passes de mágica. Portugal precisa do Ronaldo, é o nosso herói. E quando joga a selecção a crise não existe e o hino canta-se a plenos pulmões, mesmo que a maioria dos jogadores ( e do público)  só saiba o refrão. Os jogadores são milionários mas ninguém se chateia nem lhes querem tirar regalias. Faz-se birra e ,se se for muito muito bom, mais  uns milhões caem do céu.  E novos Ferraris e Diamantes surgem em orelhas e mãos desses deuses.É o milagre de  Maradona, o santo que tem a sua própria igreja. True and true! 
A Liga Europa é boa, mas a Liga dos Campeões é fabulosa, imperdível. São os jogos de uma vida, com minutos sofridos e unhas roídas até ao final. É aquela golo, o passe de bicicleta, o had-trick.
E depois é a dor, as roubalheiras, o árbitro que não viu, a necessidade de novas tecnologias, os abaixo assinados do Rui Santos.  Há choros de crianças e de pais. Há alegrias desmedidas de adultos infantilizados. Há álcool e festa e confetis. Bebem-se minis e fazem-se brindes.Não há ricos nem pobres, só adeptos. O Mundo é lindo ou um verdadeiro horror. Aquele campeonato, Este campeonato, já ninguém nos tira, já ninguém nos devolve.A Bola é uma porcaria, a Bola é a maior, consoante o jornalista esteja ou não de acordo com a nossa opinião. A Marca é a verdadeira marca, a bíblia dos aficionados. 
O futebol nada tem de racional e talvez seja esta a sua fabulosa magia. Deve ser.Porque para aqueles ( poucos) que, como eu, mais não conseguem ver além da  mesma gente a correr numa coisa verde, com muita publicidade nos placards, a bola é apenas uma bola. E os jogadores parecem ( só parecem) que engoliram uma cassete. Ou então são clones programados para dizer a mesma coisa.
Mas, apesar de a bola nada me dizer, aprecio a Paixão.Aquela coisa que se tenta racionar, com estatísticas, gráficos, programas de televisão com gente séria e muito debate... nada mais é que Paixão.
E, apesar da bola nada me dizer, aprecio as coisas que não entendo mas fazem o Mundo sonhar. Por isso a bola que role e faça esta gente feliz. 

O futebol não é uma questão de vida ou de morte. É muito mais importante que isso.

Bill Shankly.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Eu e Hemingway

Tive, tenho e terei uma relação de amor com a literatura. Principalmente com um escritor fascinante: Ernest Hemingway. Calma, não desistam já de ler. Sim vou falar de um escritor, mas sobretudo de  um homem que me fascina. Hemingway era tudo o que nos ensinam a não ser: Impulsivo, Lascivo, Revoltoso, Bêbedo. Acrescente-se 4 vezes divorciado,  metido em tudo o que era guerra (combatente na guerra civil espanhola,  combatente anti- nazi ) quando o seu país fingia  que estas guerras nem existiam. Hemingway era americano de nascimento e de morte. Mas europeu de alma, cubano de paixão. E para além de tudo isto, o raio do gajo escrevia bem.
Eu conheci Hemingway com Por quem os sinos dobram.Tinha 14 anos e a noção de guerra heróica morreu aí. A descrição da bondade e da maldade humana nos dois lados da guerra tirou-me, para sempre, parvoíces românticas e lados certos. A guerra civil espanhola está lá, esqueçam os livros da escola: é aquilo e nada mais.  E no Adeus às Armas, eu creio que é quase um retrato auto-biográfico de Ernest na sua relação com a guerra.  Mas, a verdade, é que a vida do homem que libertou o bar do Hotel Ritz dos nazis ( e serviu champagne a seguir, a rodos) é fascinante. E tudo isso está nos seus livros. Amor aos toiros, sem qualquer pudor. Pegar em armas por ideologia, daquela que vale a pena: a liberdade. Paixão assolapada por mulheres. Por álcool.Pela vida.
Eu sei porque sou fascinada por Hemingway. Porque creio, que no fim de contas também tenho, tal como Hemingway, um receio terrível: o receio de não viver.
Não viver com paixão, com causas, acima das regras que nos impõem, desafiando os extremos assusta-me mais do que a morte. É claro que não me vou enfiar numa guerra ( decididamente, acabava morta ao primeiro tiro) mas a tudo o resto...não vou virar as costas!
Sim, morrer já não me assusta. Não viver, isso é que não.Não e não e não!
Por isso Hemingway, este meu copo de vinho é para ti.Fiesta!!


"Nenhum homem é uma ilha, um ser inteiro em si mesmo; todo homem é uma partícula do Continente, uma parte da terra. Se um Pequeno Torrão carregado pelo Mar deixa menor a Europa, como se um Promotório fosse, ou a Herdade de um amigo seu, ou até mesmo a sua própria, também a morte de um único homem me diminui, porque Eu pertenço à Humanidade. Portanto, nunca procures saber por quem os sinos dobram. Eles dobram por ti"


Hemingway, Por quem os Sinos Dobram.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Os Maiores!

Se há uma doença endémica na sociedade portuguesa, é a existência de Maiores por M2.Se tiver que fazer uma estatística sobre esta doença ( porque não?, há estatística para tudo!), digamos que 1 em 5 portugueses sofre dela. Chamemos-lhe Maiorite Encefalite Aguda para ser chique e traduzamos pelo plebeu, Os Maiores! Esta doença é igualitária, ataca pobres e ricos, ataca em qualquer idade e é comum a todas as classes sociais. Vamos descrevê-la: O Maior é aquele indivíduo, homem ou mulher, que sabe mais que os outros. Faz melhores negócios. Tem sempre mais piada que os outros.Compra sempre qualquer coisa mais barata que nós. É sempre o salvador da empresa. É o melhor a educar os filhos. A fazer bolos. A engatar ( parte especialmente bem defendida pelo Maior). A ser estúpido.
O Maior é conhecido por todos nós. O Maior manda piadas giras como " Então pá, não tens filhos? Não sabes fazê-los é? Tenho de te ensinar". Segue-se gargalhada rouca e um sorriso parvo do lado dos menores.  O maior diz: "deixaste coalhar o doce? Oh, mas tu és  assim". Sorriso parvo e gargalha histérica do outro lado. Vontade de cometer assassinato do nosso. Não pelo bolo. Pela piada.
O Maior é aquele professor que nos diz:" seus incultos, ainda não leram  Tomas Tranströmer? Quem é que não percebe Sueco?" O Maior é aquele que comprou a mesma casa que nós por um preço muito mais baixo, mas nunca mostra a escritura. O Maior tem amigos em todo o lado, a que chama Drº e Profº e a quem paga jantares e tira fotografias. O Maior é empreendedor e CEO de vários negócios, embora não se saiba quais são. O Maior sabe sempre as festas e os restaurantes a ir. Nós, os idiotas, nunca sabemos nada e se a dourada ali é boa, no restaurante onde vai o Maior ainda é melhor. Mas muito melhor!
O Maior trabalha sempre muito, mais do que os outros,  e goza sempre muitooo com os que não trabalham tanto como ele. É nessa altura que o Maior se sente MAIOR e os outros, a relé, é apenas um bobo da corte que está lá para animar. 
O Maior também sofre. Oh, se sofre!Se algo de injusto já nos aconteceu, então nem queiram saber o que aconteceu ao Maior! A nossa dor é peanuts, a do Maior é Tragédia.Com vários actos e coro lírico bem afinado.
O Maior é de esquerda e de direita. O maior até pode ser Universal, mas o Maior Português tem mais sumo. Qualidade. valor.
Não há Maior maior que o Maior Português!!

Presunção e Água Benta, cada um toma a que quer.
Provérbio Popular.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Os homens

Começo já com uma afirmação polémica: os homens portugueses são maus. Muito maus. Não quero aqui fazer uma comparação inter- países ( não tenho, infelizmente, conhecimentos para tal), mas de todos os homens que conheço ( família,namorado, amigos que são namorados de outras mulheres, homens na rua, nos cafés, no social)  sei que os homens portugueses ainda não merecem as mulheres portugueses na actualidade. É uma afirmação empírica, mas absolutamente verdadeira. 
Vamos então examinar a espécie de forma mais científica: exceptuando as normas do local ( ou seja, admitindo que em  Lisboa, Trás os Montes e Alentejo existem padrões sociais diferentes e portanto alvo de análise mais profunda), o homem português continua a ser extremamente machista ( embora disfarce),mas sobretudo continua a ser um grande egoísta. Os homens continuam a não abdicar do seu tempo, dos seus vícios, das suas amizades, de nada por nós.  Não contem que nos sigam quando temos uma proposta de trabalho longe de casa, não contem que deixem de fumar, não contem com nada disso. A espécie promete, mas nunca cumpre.
Mas, e este é o busílis da questão,se formos muito honestas,mas mesmo muito honestas,  vêem que somos nós, na grande generalidade que nos moldamos aos hábitos da espécie, e não a espécie que se molda aos nossos hábitos. Mas a culpa, na totalidade é nossa. Sim meninas, é toda nossa. Nós suportamos o mau- humor sem dizer nada: está cansado, trabalha muito, coitadinho. Nós abdicamos do tempo com os nossos amigos para lhe ficar a fazer companhia no futebol ( que não requerida nem é apreciada). Nós entendemos que o menino saia à noite ( sem nós) e durma à tarde. Nós encaixamo-los entre mestrados, trabalho  e outras coisas com malabarismos que não são minimamente aplaudidos.Nós fazemos tudo sem refilar e sem dar a entender como isso nos incomoda. E infelizmente a espécie ainda não nos percebe, nem há-de perceber. Mas o grande problema é que nós contamos uma história diferente da verdadeira: vendemos aos outros a relação perfeita, o nós vamos ali, o nós entendemos, o nós etc e tal... E a frustração vai aumentado. E no fim, nem fizemos bem a nós nem à espécie. 
Os homens precisam de ser educados. Mimos e bajulação já eles tiveram, e muito!,da mãezinha.. E essa é outra grande questão! Para terminar, quero dizer que existem homens que não correspondem a esta descrição. A maioria é gay, mas ainda assim existem homens fabulosos, tão fabulosos que parecem mentira: que não nos ajudam mas sim repartem tarefas, que estão lá para nós e para os nossos amigos, que abdicam de vez em quando das suas coisas quando nos vêm muito azoadas... Que nos levam a jantar fora e a passear sem que lhes digamos nada.Milagre!
Meninas, se ao vosso lado tiverem um homem que corresponda a esta descrição, agarrem-no bem.Mas não se iludam. Muitas vezes não queremos ver o que está à nossa frente.Continuamos a ser personagens de uma história de encantar que não existe. O príncipe encantado existe, mas precisa que nós lhe digamos o que fazer. Senão, fica um sapo cada vez mais gordo!

"Os homens são como as moedas; devemos tomá-los pelo seu valor, seja qual for o seu cunho."Carlos Drummond de Andrade



segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Este meu tempo!

Perceber esta sociedade em que insiro é muito complicado. Estou enredada nela, não tenho a distância suficiente para a entender na sua plenitude. Mas isto não me impede de pensar sobre a sociedade, no seu sentido mais intrínseco: o que nos define, quem somos nós, e quais os nossos propósitos.
Creio que estamos todos perdidos, confusos. Se tivéssemos que definir a nossa sociedade e os nossos tempos, definia-os como os tempos da quantificação. Somos uma sociedade que quantifica. Quantificamos quando bebés nascem. Quantificamos quantos de nós morrem. Quantificamos a média escolar.Quantificamos os bons alunos pela sua média. Quantificamos a nossas relações como más, perfeitas, estáveis ou intensas. Quantificamos a nossa vida através de escalões profissionais. Até quantificamos as emoções: Foi muito bom; foi muito mau. 
Precisamos de tabelas, de objectivos. Precisamos de timelines na nossa vida: estudar, tirar um curso, casar, ter filhos. Quantificamos cada etapa da nossa vida. Estabelecemos comparações entre nós e outros, quantificando-as . Ganhei, perdi. Falhei, acertei. De 0 a 100 , hoje consegui 70.
E no meio de tudo isto, ficámos perdidos.Aceitamos a razão como primazia da emoção.Aceitamos a emoção quando a razão o permite.Não nos dedicamos a pensar no que é certo ou errado. Aceitamos um conjunto de normas. Quantificamos o bem e o mal.O amor e o ódio. O sexo: bom, mau, explosivo?, vos dirá qualquer revista feminina.
E quando nos perdemos no emaranhado das coisas, definimos a qualidade: A qualidade do tempo passado juntos; a qualidade das relações, etc.. que não é mais que uma desculpa sobre o pouco tempo que despendemos ao outro, a nós, ao mundo.
É  preciso quebrar este binómio qualidade/ quantidade que mais não é que um cliché dos nossos tempos. É preciso procurar a verdade das coisas. Estamos longe da verdade. Até Descartes definiu o seu método cartesiano, o método de chegar ao conhecimento, à verdade! A verdade Universal, aquele que não depende de pessoa para pessoa, a verdade moral, o que é? 
Há coisas que precisamos de começar a pensar.A verdade, o que é justo, são algumas das grandes questões que deveríamos começar a pensar. E talvez o percurso deva começar aqui. Agostinho da Silva, um dos grande filósofos portugueses, dizia que não lia jornais para não lhe atrapalhar o pensamento.
Definir menos, abranger mais. Ouvir. Falar. Pensar.  É isto que eu penso que falta no nosso tempo quantificativo. E vocês, o que acham? Quero vos ouvir. Talvez juntos, possamos aprender mais...



Mais se comunica falando do que de qualquer outra forma; o que nos dizem muitas vezes nos parece de nenhuma importância, mas talvez tenha havido uma falha na atitude de escutar do que no conteúdo do que se disse; porventura a palavra-chave estava aí, mas estávamos distraídos, ou ansiosos por nós próprios falarmos; e no vento fugiu, a outros ouvidos ou a nenhuns. Ouça. 

Agostinho da Silva, in 'Textos e Ensaios Filosóficos'


sábado, 8 de setembro de 2012

A luz, ao fundo!

Força! Tudo o que tiveres para dar é agora o momento. O momento de me odiares, de me desprezares, de me fazeres sentir mal. Força. Porque vais precisar. Hoje sinto-me implacavelmente bela e até voluptuosa. Sinto que os momentos mais negros estão para vir. E nada os deterá. Mas isto já não me mete medo. Eu sei que é sempre escuro antes da madrugada. Mas quando ela chega... Oh, o sol brilha mais alto! E o sol seu eu!
Não quero negar passados nem ser mais do que o fui. Não. Quero ser Mais, mas muito muito Mais. Porque a vida é curta para mim, previsível, desonesta mas infinitamente bela . Eu sou o que serei. E, se no caminho, as pedras foram escorregadias cairei e tentarei de novo.
Vivi a vida que me escreveram, mas esta não me chega. Há tanto para ver, para entender, para sonhar!
E no momento em que o Mundo decide colidir nas suas próprias garras, a liberdade assoma à esquina.  E se for um túnel escuro eu sei que a luz está lá no fundo. E essa luz sou eu.E tu!

Por isso liberta-te. Percorre o caminho comigo. Há mais do que nos contam...

Para Y!

As coisas que nos assustam são em maior número do que as que efectivamente fazem mal, e afligimo-nos mais pelas aparências do que pelos fatos reais.
Séneca

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Vogue

Ou em bom português, Moda.  A moda é, provavelmente, a coisa mais importante do mundo. Calma, não me atirem já com as lengalengas da fome e da guerra na Síria. Embora para a guerra na Síria eu não encontre ,por agora, uma solução; a indústria da moda pode acabar com a fome no Mundo. E sim, não estou minimamente a brincar.Bono Vox criou a Red, uma empresa/ associação de caridade ( cujos lucros revertem para África) que vende o quê? Bingo. Roupa. E já agora bem gira. A Barefoot College, associação de caridade que se dedica à construção de painéis solares financia-se através da venda de artesanato dos países em desenvolvimento. E por artesanato entendemos o quê? Bravo! Roupa e acessórios.
Portanto a moda está a salvar o mundo.Mas infelizmente, os intelectuais do mau gosto, aqueles que dizem que não ligam a moda e só gastam o seu dinheiro em intelectualidades e querem salvar o mundo com o seu sermão chato e irritante,  existem aos milhares. Poupem-nos a cores sem sentido, a calças e camisolas sem corte, aos vestidos do século passado e mal acessorizados. O 8º pecado católico devia ser: não te vestirás mal!É que nem o inferno te aceita !
Lembram-se daquele fabuloso filme chamado O Diabo veste Prada? Nesse filme, uma ignorante e super intelectual  estagiária, começava a rir quando a personagem de Meryl Streep se questionava sobre os diferentes tons de verde.Ora, essa cena acaba com a fabulosa Meryl Streep a explicar que a cor começa a ser escolhida pelos estilistas de alta costura e termina com a cópia, à escala de milhões para as lojas do planeta , da mais cara à mais barata. Perceberam? Ninguém tem escolha na moda, a moda escolhe o  que usamos.. E também não há nada de personalidade e outras tretas. Compramos o que há e depois usamos. Agora bem ou mal é que é a questão.  Infelizmente, mau gosto e péssimo sentido de conjugação é prática dominante.
Portanto, na próxima vez que tiver de ouvir ah pois, eu não ligo à moda, só comprei estas calças na Tailândia( amarelo mostarda)  e este lenço na feira da ladra (rosa com riscas),e sinto-me bem assim terei de responder: tens toda a razão, nota-se claramente o teu mau gosto. É  uma pena teres de o partilhar!.
E contra factos não há argumentos.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Acabar as férias.. e não voltar ao trabalho.

Consideramos férias aquela época do ano em que terminamos o nosso trabalho, os afortunados recebem o subsídio de férias, e passados alguns dias ou semanas regressamos ao trabalho. Isto são férias. Uma pausa no tempo. Um miminho para os que trabalham. 
Mas férias neste ano de 2012 pode significar, para milhares de portugueses, outra coisa: o início de relações contratuais com a segurança social. Ou seja despedimento. Colectivo, individual, há para todos os gostos e feitios. Isto para quem tiver sido empregado ou trabalhador por conta de outrem. Porque se foi empresário, patrão ou empreendedor como hoje se diz, ou roubou a tempo ou se foi estúpido( ou seja honesto) e como tal ficará sem nada: sem direito a qualquer subsídio, a qualquer ajuda, a qualquer dos seus descontos.
Para a minha geração, férias significam períodos de desemprego. Com contratos temporários, as férias são gozadas quando um termina e a esperança de um novo contrato se avizinha. E, como sortudos que somos, podemos ter férias de um e dois anos. E contratos maravilhosos em call centers e muito bem pagos: 500 euros, upa upa!.Haja alegria!
Mas, para os licenciados em ciências sociais e humanas há agora uma nova esperança: subsídio de Reinserção Social! Sim, isso mesmo. Queres uma oportunidade na área? Pedes o subsídio e podes ser colocado num museu, biblioteca ou seja a prestar um serviço à sociedade.Porque toda a gente sabe que isto de museus e bibliotecas é para tolos e com a quarta classe arquiva-se muito bem e se tiverem o sexto já fazem visitas guiadas. Portanto animem-se, oportunidades de trabalho surgirão! 
Mas a culpa é nossa. Porque licenciados que somos continuamos a fazer trabalho voluntário na nossa área! Perguntem a um engenheiro civil se está a ganhar currículo numa obra! Ora se está!
A verdade é que continuamos calados e submissos. Independentemente da área, da idade, da profissão, continuamos a pensar que a nós não nos calhará tal fado.  E continuamos a estagiar gratuitamente. E continuamos a não exigir bons serviços públicos. E continuamos a ver fechar empresas todos os dias e nada fazemos.
Até quando? 


O trabalho tem mais isto de excelente: distrai a nossa vaidade, engana a nossa falta de poder e faz-nos sentir a esperança de um bom evento.

Anatole France, in O Anel de Ametista

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

A família!

Estava eu muito contente a ler a Nova Gente, essa revista do verdadeiro boato, quando a minha querida mãe me apresentou a Caras. Ora bem, as diferenças são inacreditáveis, com a Nova Gente a bater aos pontos a Caras nas questões das maledicências, tal como eu gosto.Uma revista ou coscuvilha ou então não me façam perder tempo.
No entanto a Caras despertou-me a atenção por causa da palavra "família" Aparecia a importância da família, o valor da família em todo lado. Parecem aquelas borbulhas irritantes da adolescência que não teimam em sair. A família enorme com pai, mãe, filhos, avós, tios e netos de sorriso muito feliz e bastante idiota, descrita dita deste modo convencional, é absolutamente irritante. Porque todos sabemos que é nas famílias que o maior mal se esconde. A maioria dos abusos sexuais é efectuada em família, a maioria das zangas e discussões é efectuada em família, os mais macabros assassinatos são perpetrados entre família.Não me levem a mal,acredito que a vossa família é maravilhosa, unida e melhor que as outras, vamos pôr assim para não ofender ninguém. Mas existem outras famílias, que não a minha e as vossas obviamente,que são casos de polícia e filmes de horror. E,provavelmente,essas pessoas sentem-se mal em família  e a família não as protege nem as faz sentir seguras.
Mas, numa sociedade com valores (adoro esta palavra, lembra-me dinheiro mas afinal é outra coisa mais sentimental) familiares tão fortes, assumir a horribilidade da nossa família ou dos nossos familiares é quase mais condenável do que os crimes cometidos entre família. Não dizer que o meu pai é o meu herói e a minha mãe uma mulher de armas e o modelo perfeito,o meu marido o máximo e as minhas tias super, é expor a vulnerabilidade da vida e as nossas mais profundas dores e segredos. E, são poucos os que aceitam que, se calhar, os nossos inúmeros clichés dificultam a vida dos outros, tornado também a nossa um covil de mentiras.E é nesse encadeamento de clichés parvos e idiotas, de uma moral que se torna absolutamente imoral porque proíbe a vida no seu pleno, que julgamos os outros mesmo quando estes se tornam vítimas.Repararam que Portugal foi o único país católico onde, quando Papa o visitou, não surgiram vítimas de abuso sexual? É claro, óbvio, absolutamente certo ,que os nossos padres e sacristães são uns santos e às vezes os nossos meninos portam-se mal e precisam de levar tau-tau.
E por tudo isto faço um apelo: que os que têm uma família decente parem de  difundir esta gabarolice gratuita pelo mundo. As pessoas amam-se e glorificam-se em privado ou em situações absolutamente especiais.
Mais do que isso, é uma espécie de maldade. Ou pior, um fingimento exacerbado de quando algo vai realmente podre no reino das famílias.E para tal não há palavras. 

"A família é a fonte da prosperidade e da desgraça dos povos."
Martinho Lutero


quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O ritmo vertiginoso da Vida.

Hoje, acordei a pensar que, caso tivesse nascido no início do século XX, imaginemos em 1900, como é que seria a minha vida. Não estou a falar aqui em coisas concretas, ou seja se já teria filhos, como seria a minha casa ou de outras coisas assim. Estamos a falar das miudezas da vida, ou seja aquelas coisas que damos por adquirido sem pensar muito nelas. Se eu vivesse em 1930, provavelmente não teria televisão e não teria, de todo, computador.  Ou seja, os meus hábitos matinais desapareceriam. Com sorte, saberia ler e entretinha-me com um jornal. 
Ora, é na palavra entreter que está  o verdadeiro busílis da questão. Entreter é nossa vida. Vivemos rodeados de entretenimento: televisão com 115 canais, computador, iphone, ipad, Playsation, X- Box... Nós vivemos em busca de entretenimento. E justificamos a nossa busca com palavras tão sérias como trabalho "preciso disto para trabalhar" quando a verdadeira razão é: preciso disto para viver.  Nós precisamos das coisas para viver e já não sabemos viver sem nos entreter. Reparem, não estou aqui a fazer qualquer crítica: estou a escrever-vos  num computador e esta manhã já fui ao facebook,  vi o email e todas estas coisas necessárias para trabalhar apesar de hoje estar de férias.
E percebi que não me consigo desligar. Procuro sempre a notícia para estar informada. Hoje é o Pingo Doce. Ontem foram assassinatos. Anteontem a Moody's atreveu-se a baixar as classificações de alguns países europeus. E outra vez, o Pingo Doce e as suas promoções.
O ritmo acelera e apanha-nos no meio. E o que fizemos com todas estas informações? Nada. E teríamos tempo para isso? Não. É impossível  correr para apanhar um comboio de tão alta velocidade. Ficamos perdidos, massacrados e ultrapassados por toda esta velocidade vertiginosa que se abate sobre nós.
E é por isso que hoje decidi tirar um dia Bom. Vou à biblioteca  buscar livros, grandes e complexos, de preferência com alguma história de amor! E não vou ligar a televisão. Vou esperar que o meu cérebro desacelere, vou fingir que não existe net e que o facebook  também não.Vou pensar sem querer obter uma resposta imediata. Será ainda possível? Será possível desacelerar e saborear este magnífico sol e mar que o mês de Agosto me dá? Vou descobrir. Hoje, a partir de agora. 
E por isso, vou presentear-me com um dia bom! 

O jogo da vida é rápido, omnívoro, devorando a atenção e não deixando um momento de pausa permitindo o pensamento e a concepção de propósitos mais elaborados.

Zygmunt Bauman,A Vida Fragmentada.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

As perguntas!


Desculpem leitores masculinos, mas esta crónica é exclusivamente para mulheres. No entanto, podem ler e perceber como é,realmente,o nosso mundo.
Existem perguntas que nos perseguem toda a vida. São mais insistentes em algumas épocas, mas fazem perto do nosso crescimento. Já começam a reconhecê-las?
Até aos 10 anos, as perguntas são: então já sabes ler? Passaste de ano? Vais de férias com os teus pais? E para onde? Geralmente estas últimas duas perguntas são sempre feitas por membros da família com segundas, terceiras e quartas intenções, que só muito mais tarde reconheceremos.
Mas é a partir dos dez anos que a vida das raparigas se complica. E qual é a pergunta que nos persegue? É essa mesmo,20 pontos: já tens o período? Ou na variante mais popular: já és uma mulherzinha (sim, o estatuto começa aqui)? Ou ainda, na sua vertente mais popular (mas mesmo popular, ou seja do povo): então, já joga o Benfica? Esta última deixa-nos confusas, baralhadas e muito angustiadas. Por mais que sejamos acérrimas defensoras do clube, nunca mais o vemos da mesma maneira. Porque a imagem é muito visual e pouco polida, digamos assim.
A partir dos 15/16 a pergunta altera-se. É feita a nós, aos pais,aos amigos: então, já tens namorado? A sua filha já namora? Não? Ah, a minha sim, com o filho do não sei quantos e tal... Nesta altura pensamos em emigrar, mas não temos ainda idade legal para isso. E quando passamos a ter aí a pergunta muda: então, já casou? Vai casar? Quando vai casar? Ai, não vai casar?
Casar torna-se uma obsessão social tão grande, que tenho a certeza que muitas amigas minhas se casaram só para não terem de ouvir nem responder a esta pergunta mais vez nenhuma.E é por isso que se usam alianças: é a imagem visual do “já casei, por favor não me façam mais esta pergunta.”!
E a partir da 30,a pergunta é só uma:e filhos? Esta pergunta é universal. Não interessa se se é casada, solteira, divorciada ou até um pouco anti-social. A pergunta, por ser universal e absolutamente intrometida, persegue-nos sem tréguas. Já tem filhos? Já tem filhos? Já tem filhos, até à exaustão!!!!!!
E no meio de tantas perguntas, nunca ninguém nos faz a mais desejada. Aquela que merecemos responder para poder continuar a viver em pleno: qual é o teu sonho? Porque desejos e  ambições não são socialmente aceites e por isso não se perguntam. Os sonhos devem ser retraídos, fechados, em nome de um bem maior: a ordem pública. Aquilo  com que conseguimos conviver.O banal. O normal. Ler, namorar, casar, ter filhos.
 E por isso, porque os sonhos, quando os temos, são ilimitados, e por isso ninguém, mas mesmo ninguém nos faz esta pergunta.
Mas eu não quero cair no mesmo erro e por isso pergunto-te, tenhas 10, 20 ou 30 anos:

Qual é o teu sonho?


Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.

António Gedeão,  Movimento Perpétuo, 1956


sábado, 18 de agosto de 2012

As desgraças dos outros são maravilhosas!


As desgraças dos outros são maravilhosas! Leram bem, é isto mesmo que está escrito: A desgraça dos outros é maravilhosa!
Ontem, deitada na praia a ler um qualquer livro fácil e quase intragável, ideais para estes dias de verão, dediquei-me a ouvir as conversas alheias. E não há nada melhor que uma boa conversa roubada para nos pôr a pensar na vida e nas coisas.
Ora bem, todos os meus "vizinhos" debitavam ódio puro e pouco refinado sobre outras pessoas. Era a outra porque estava " armada em fina" mas não tem onde cair morta, era o outro que costumava ser um rico vaidoso e agora, bem feito, estava pobre como tudo...  E a filha daquela convencida, que tinha a mania que a miúda era maior e agora chumbou no 12º ano? Ah pois é, e agora? Se calhar nem vai para a faculdade como a minha Cátia Cristina que entrou em Direito (reparem, Direito) na Lusófona!
E eu comecei a pensar que, quando vemos os outros bem, sobretudo financeiramente e amorosamente, começa a crescer em nós um pequeno ódio que vamos alimentando. E quando a vida daqueles que outrora apoiamos e até fomos " amigos" começa a cair em desgraça, há algo de monstruoso que sai cá para fora: uma enorme satisfação pela infelicidade alheia, uma enorme sensação de justiça. Fez-se justiça porque nós, pobres mas honrados, sentimos um enorme alívio quando a felicidade dos outros acaba. Fez-se justiça porque eles tiveram algo que nós não vamos ter.E fez-se justiça porque nós, os pobres condenados, vamos poder viver em igualdade na desgraça e não na felicidade.
E este espírito mesquinho está em todos nós. Seja evidente na praia, no café, na escola, no futebol, na família. Ele está cá e corroí-nos e anima-nos e alimenta-nos. 
E talvez, seja por tudo isto, que não vamos sair tão rápido desta crise. Porque nos puxamos sempre para o lado negro e nunca para o lado bom da vida. Igualdade, fraternidade e liberdade são palavras muito bonitas para a Revolução Francesa. Porque isso cá da felicidade alheia dá comichão, faz mal e é remédio fraco. A infelicidade alheia soa-nos muito melhor e é muito mais agradável!


 "Toda a gente é capaz de sentir os sofrimentos de um amigo. Ver com agrado os seus êxitos exige uma natureza muito delicada."
Óscar Wilde