Desde
pequena que ouço estas expressões como “ ter berço”, “famílias de bem”, “gente
fina”. Estas expressões traçavam (e traçam) a fina linha entre “nós”, o povo, e “eles”, os de
bem, da elite. Ninguém personifica tão bem
estas expressões como a família Espírito
Santo, a verdadeira família de bem portuguesa. Uma família caridosa e que, por
acaso, também é dona de um banco.
Os
Espirito Santo representam as glórias passadas de um país, tão caras a tanta
gente, e um banco nacional que se confunde com o próprio governo. As ligações políticas duvidosas
e corruptas sempre fizeram parte dos Espirito Santo. Desde a amizade
privilegiada do banqueiro Ricardo Salgado (avô do actual Ricardo Salgado) com
Salazar, passando pela governação Sócrates em que o grupo BES é o banco do poder e com poder para negociar PPS danosas para o Estado em áreas como a
saúde a construção, até ao actual regime político em que Ricardo Salgado foi
nomeado consultor não oficial de Passos Coelho.
O BES
sempre foi pródigo em escândalos . Escondeu contas em nome do ditador chileno Augusto Pinochet ,
esteve envolvido no caso Portucale (em que uma empresa financeira do grupo BES alegadamente
transferiu milhões para os cofres do CDS) e é um dos bancos citados no escândalo do "Mensalão"
.Escândalo financeiro tornou-se quase um sinónimo de BES. Mas como eram
negócios lá “deles”, nós permanecíamos mudos e calados.
Este ano o BESA perdeu o rasto a 5,7 mil
milhões de dólares em créditos. Coisa pouco para quem tem bolsos largos e
acidentes acontecem. Tal como os esquecimentos. A holding da
família esqueceu-se de declarar 1200 milhões
de euros em dívidas e divulgou
dados errados ao mercado. E como é que nós sabemos? Através de uma menção feita
pelo próprio banco no prospecto de aumento de capital de 1045 milhões de euros.
Porque quando os primos de zangam, os esquecimentos aparecem.
Então o que fez o Banco para resolver os seus
problemas? Pediu aos contribuintes portugueses, considerados preguiçosos e dependentes do
subsídio de desemprego ( declarações de Salgado em 2013) que o ajudasse a resolver este pequeno
problema de família. É como brincar aos pobrezinhos estão a ver?
O amigo Passos não concedeu esta ajuda caridosa apenas
porque as normas de Basileia III e a União Europeia não o permitiram. Mas tinha vontade, isso aposto que tinha. Por isso Salgado foi pedir ajuda ao Estado Angolano que o
ajudou a tapar o buraquito . O BESA está resolvido à custa dos contribuintes
angolanos, a holding da família aguarda um menção de” risco de contágio” para
resolver os seus. Porque se os mercados ficarem mesmo nervosos, o Passos vai
ter de ajudar não é?
A
história dos Espirito Santo é a história de um país que acha que os ricos têm
direitos que os comuns mortais não têm. A história de um país que acredita que
comprar um carro a prestações é pecado, mas esconder milhões aos impostos “são
coisas lá deles, fazer o quê?”.
Fazer
o quê? Levar à justiça o crime de inside
trading, de branqueamento de capitais. Porque já percebemos que os negócios
deles são feitos com dinheiro nosso. É o que se chama maus vícios. Mas maus
vícios de uma família de bem não são uns vícios quaisquer….
"Não nos libertamos de um hábito, atirando-o pela janela; é preciso fazê-lo descer a escada, degrau a degrau."
Mark Twain