Deixo-vos aqui o discurso que tinha preparado para o II Congresso do LIVRE, 19 de Abril, no espaço gandaia na Costa da Caparica. Depois não o li, mas era isto que estava planeado. Vou tentar colocar o vídeo do que eu realmente disse mais tarde...
"Desde que me lembro, a política foi sempre coisa de gente
séria e adulta. Para se ter pensamento político era preciso ter família
política, visão estratégica para o país, análise fundamentada sobre sectores
estratégicos e um espírito empreendedor.
Convenceram-nos que esta coisa da política era para gente
com curso, para gente com currículo (e bom currículo) com passagens pelo
estrangeiro e universidades e empregos internacionais, e se lá estiver FMI ou
DAVOS, então estávamos perante gente boa, tecnicamente excelente, os melhores
entre os melhores.Caímos todos neste engodo e fomos entregando o governo do
nosso país aos técnicos, para ser analisado por técnicos e expropriado pelos
técnicos. E vivemos com perspectivas económicas, análises estatísticas,
previsões, gráficos, tabelas e variáveis. Estes instrumentos estavam ao serviço
das grandes linhas orientadoras, de grandes visões estratégicas que nos levariam
ao olimpo da prosperidade sem erros, limpinho, limpinho. E os números, esses
santos números, mostravam-nos o caminho, a verdade das coisas, a glória
nacional e internacional.
Mas os números mostraram-nos que, nos últimos 4 anos, a
dívida pública é de 130,2% do PIB. Mas a
culpa não é dos técnicos nem dos
senhores com grandes currículos que nos governam. A culpa é que os índices e variáveis
tão certeiras estavam dependentes de outras variáveis, e essas não estavam
variavelmente certas porque se baseavam na vida das pessoas..
Inacreditavelmente as pessoas não se comportaram de acordo com as variáveis.
Tiveram o desplante de falirem, de não produzirem de acordo com os gráficos, de
não se reproduzirem de acordo com a média prevista. E por isso, tal como Passos
Coelho tão bem nos explicou, a culpa não é dos mercados nem das previsões mas
sim das pessoas, esses seres imprevistos.
Então e se começássemos a pensar, com grande ousadia é
certo, de que a política deveria estar ao serviço das pessoas e pensada e feita
por pessoas?
E se a educadora de
infância pudesse usar a sua experiência num programa político,
e se um empregado
fabril pudesse participar na construção de um programa político,
e se um escultor
pudesse participar na construção de um programa político
e se um desempregado
pudesse participar num programa político
e se cada um de nós
pudesse participar na política...
Imaginem só as potencialidades, imaginem só a revolução que
esta simples ideia pode provocar no país, no mundo. Por isso nasceu o LIVRE,
agora LIVRE/ Tempo de Avançar.
A nossa missão é revolucionar pelas ideias. É trazer a nossa
vida para a política. É construir uma visão estratégica para o país que se
baseia na nossa vida e nas nossas experiências, é não ter medo de falar e de
dizer, é tirar o poder de decisão dos técnicos e dos senhores com “currículo”.
É perder tempo a escrever aquela ideia que nos surgiu quando lavávamos a loiça
sobre IRS, é escrever aquela solução sobre esgotos que já sabemos há tanto
tempo mas ninguém nos ouviu, é assumir o nosso pensamento estratégico sobre
Europa. Ser LIVRE é isto: não temermos o ridículo, não nos sujeitarmos ao
respeito pelos senhores técnicos, acreditar que cada um de nós é capaz de
encontrar soluções para o país e que a capacidade de pensar não depende de
escolaridade, raça, gênero, idade e profissão. Ser LIVRE é acreditar que cada
um de nós é um mundo com valor e com saber. E se cada um de nós cumprir a sua
parte então eu acredito, todos nós acreditamos, que os números vão ser mais
felizes.Portanto: pensem, escrevam, arrisquem, candidatem-se às
primárias. Acreditem em vós e nas vossas capacidades. Acreditem que somos
capazes. E façam-no hoje, agora, já.
Não percamos mais tempo: Este é o tempo da
revolução."