Tenho-me vindo a aperceber, de dia para dia, como as relações
entre mães e filhas são disfuncionais. Cada relação entre mãe e filha é uma
relação única e independente, mas existem mães que fazem das filhas as suas
confidentes e filhas que fazem das mães a sua melhor amiga. Talvez eu esteja a
ser demasiado rígida nisto, mas as mães que se intrometem na vida das filhas são
pequenas ditadoras que não conseguem largar o poder quando a cria quer voar.
Mães que se metem no casamento, na arrumação da casa, que ditam regras sobre
onde se pode ir ou não ir, com quem estar e até tomam as dores das filhas e
intervêm, são sempre o gatilho da desgraça. Porque são o terceiro elemento do
casamento, das amizades, dos empregos. E as filhas que lhes continuam a
obedecer (quantas conheço que até prestam contas da casa à mãe, apesar da mãe
não colocar um cêntimo na gestão familiar) serão mais tarde ditadoras à espera
da sua oportunidade. Mãe é mãe porque deve estar lá quando requisitada. Mas mãe
é também saber dizer que não quer saber sobre isso e que não pode ajudar a
tomar uma decisão conjugal. E ser filha também é difícil porque implica saber
quebrar regras, dizer não, não prestar contas.
Das relações confidentes entre mãe e filha saem quase sempre
regras permanentes. Quando ouço dizer que “ a minha mãe é a minha melhor amiga”
até tremo. Porque amiga é uma coisa, mãe é outra. Claro que conto coisas à
minha mãe sobre a minha vida. Mas outras só conto às minha amigas. Não me
sentiria muito à vontade para contar “ ontem apanhei uma bebedeira enorme. Nem
para referir aspectos mais íntimos. E, para ser franca, também não os quero
ouvir!
Criar gente independente é difícil. Gente que cresce, que
erra e que não dá satisfações deve ser difícil para uma mãe. Mas o princípio do
amor é deixar voar, independentemente da direcção. Isso é ser mãe. E quebrar
barreiras e dizer não também é difícil. Isso é ser filha. Tudo o mais é apenas
uma enorme confusão…
“Ser mãe não é uma profissão; não é nem mesmo
um dever: é apenas um direito entre tantos outros."
Oriana Fallaci.