Várias vezes me questiono porque é que as mulheres não estão na política. Consigo perceber que a
que a realidade social é diferente para homens e mulheres porque,
pasmem-se, também sou mulher, e que para nós mulheres, o peso da família, do
cuidar dos nossos e das nossas coisas, ainda é pesado, leva-nos tempo e
energias. Mas deixem-me contar-vos uma
história. Há duas semanas, num daqueles muitos jantares de Natal que deviam ser
proibidos constitucionalmente, a mesa estava quase paritária. Jantou-se,
falou-se de temas banais, e no fim os homens levantaram-se para colocar os
pratos na cozinha e as mulheres, instintivamente, começaram a lavar e arrumar
loiças e tudo o mais. Até aqui tudo normal, dentro de um certo pressuposto de
normalidade. O que me fez parar para pensar não foi isto, foi o que se passou a
seguir. Os miúdos estavam a ser miúdos ou seja a gritar e a infernizar a festa,
e um dos putos estava a dar rodas e
voltas no chão . Quando uma das miúdas, pequenita da mesma idade, se junta no
chão a fazer rodas e coisas barulhentas a mãe coloca-se em campo, levanta a
miúda do chão e diz bem alto “ Pára
quieta já.comporta-te como uma menina”. E vira-se para nós e diz “ credo, que
elas hoje são piores do que eles”. E aqui está o problema. É que
quando aquela menina crescer e disser mais tarde à sua filha para se comportar
como uma menina, é porque nós mulheres deixámos que isso acontecesse, eu mais
que incluída. Nós mulheres, que ficamos sempre na sombra quando somos chamadas
a intervir, contribuímos para que as diferenças de género não se esbatam e
dizemos àquela menina que pode fazer menos do que o amiguinho do lado porque o
seu espaço natural é de reflexão e recolhimento e o do menino de caos, barulho
mas de intervenção. Na política quando
não assumimos o espaço que nos está reservado e que foi arduamente conquistado, então somos
nós quem está a dizer às próximas gerações que há comportamentos de meninas
e comportamentos de meninos e a política
é para os meninos porque nós temos “ mais que fazer”. Se queremos e exigimos paridade temos de dar, literalmente, o corpo
ao manifesto. É nossa obrigação zelar para que as novas gerações de mulheres e
homens não tenham medo de falar, de dizer não, de assumir diferentes papeis sem
se preocupar se convém ou não ao seu género .É nossa obrigação de contribuir
para um tempo justo.