quarta-feira, 25 de julho de 2012

Amor

Amor é uma coisa lixada. Completamente despropositado, quando aparece começa por ser bom, a meio baralha tudo e no fim lixa-nos  a cabeça. Esta é a minha definição de Amor. Que está longe se ser trágica.Amores morninhos são como a comida semi-aquecida: come-se mas esquece-se rapidamente.
Lembrei-me de escrever sobre o Amor porque hoje, numa simples ida ao café, um grupo de mulheres falava sobre os seus casamentos/ sentimentos/ relacionamentos ou outras palavras acabadas em entos. Desculpem-me os homens, mas esta é uma crónica que as mulheres vão entender melhor.Ou não, afinal pouco percebo de vocês...
Ora metade do grupo elogiava o marido e subordinava-se a este. São as mulheres na casa dos 50, aquelas para quem o divórcio ainda é um estigma e para quem casar é um " ofício". A outra metade tinha a minha idade. Falava baixinho entre si. As coisas já  não estavam a correr bem, que ele não era romântico, etc etc.. Até que outra rapariga responde ( sim rapariga, aos 30 somos raparigas!): isto é tudo igual ( isto é o macho), escolher marido é como escolher um carro: temos de ver qual gasta menos,  que tipo de viagens fazemos, se passa a vida na oficina ou não... 
Como diferentes são estas gerações de mulheres.  As primeiras sem escolha, as segundas com toda a liberdade do Mundo. Felizmente eu pertenço à segunda, que fique bem clara a minha posição!
Ora, não é minha intenção julgar ninguém. Cada um escolhe o que escolhe, da forma como escolhe.E nisto tudo lembrei-me da Callas. A Callas, a Maria Callas essa grande cantora de ópera que morreu de amor. Literalmente. Morreu desprezada pelo Onassis, esse grego gordo que a trocou por uma socialite americana para obter status.  Callas morreu sozinha em Paris, cidade do amor. Morreu de amor por Onassis.
E Onassis? Bem, esse morreu uns anos depois. Morreu num hospital em Paris. E as últimas palavras que disse foram Callas. Maria Callas. 
Onde é que eu quero chegar? Bem, Onassis escolheu a Jaqueline como quem escolhe um carro: deu-lhe status, encaixou-o nos perfis estipulados. Trouxe-lhe "Know how". E a Callas? A Callas trouxe-lhe Paixão. Grandes discussões. Uma tragédia grega. A Callas deu-lhe ( e acredito que ele também lhe tenha dado) Amor. Não o mais bonito. Não o mais pacífico. Não o mais sereno. Mas sem dúvida Amor.
Não está na moda morrer de Amor.Eu não quero morrer de Amor. Mas, se um dia escolher alguém como um carro ou uma casa, com uma lista de defeitos e virtudes para identificar( como recomenda a Cosmopolitan) não saberei o que é viver de Amor.
E esta parece-me a verdadeira tragédia! 

Para T.

P.s- Como diz la Carmen si je t'aime prends garde à toi!




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segunda-feira, 23 de julho de 2012

Acalmar os "mercados", esquecer as Pessoas!

Mercado é aquele sítio onde se vai para comprar alimentos, roupa, móveis e outras coisas desse género.  Contudo, parece que no século XXI é também um sítio onde se vai comprar dinheiro, trocar, investir ou especular. Pois meus caros, parece que a grande maioria da humanidade só conhece os de primeiro tipo e não os de segundo: os mercados financeiros.Mas os de segundo tipo, os ditos financeiros conhecem-nos muito bem.Sabem como nos vamos comportar agora e no futuro e ficam "nervosos" quando não temos o comportamento adequado. E nós, pobres crianças mal-comportadas, temos de pedir perdão e prometer-lhes que vamos nos portar melhor da próxima vez. A isto chama-se " acalmar os mercados".
Agora, há aqui duas questões interessantes. A primeira: é quem votou nos mercados?  Num Estado democrático, como o nosso e da maioria dos países Ocidentais, é-nos dito que o nosso voto é expresso  no melhor candidato ou no melhor programa governamental.Não, não li, em parte alguma em qual dos mercados terei de  votar. E a qual deles devo obediência e terei de "acalmar" .
Ora isto é enganador, é a maior das mentiras que existem.  A grande trapaça do século XXI. A maior mentira veiculada pela comunicação social, pelos políticos, pelo burburinho das ruas. E porquê? Porque o mercado financeiro nada mais é que um negócio. E este negócio deveria ser regulado pelos políticos, aqueles em quem depositamos o voto, os escolhidos para aplicar as nossas resoluções humanas, a base da democracia. Para quem já se esqueceu democracia tem como pano de fundo ( cada vez mais fundo) a liberdade, igualdade e fraternidade. Foi o ideal da revolução francesa e se me permitem, a base da nova democracia, aquela que ainda hoje defendemos, pelo menos aparentemente.
E por isso não é aos mercados que devemos pedir nem satisfações nem desculpas. Devemos sim exigir  mais aos políticos que nos governam. E governar é tomar decisões difíceis.  É enfrentar as piores marés quando estas não estão calmas. É ser aquilo que se prometeu ser: governar pelo bem comum. Quem não quer ser político, por favor não seja. Mas quem o decide ser,que o seja na base do que Aristóteles definiu: a ciência da felicidade humana, cuja ética se divide na felicidade do individuo e na felicidade colectiva do grupo de indivíduos. Deveria haver um juramento para quem quisesse ser político, podíamos até lhe chamar o juramento de Aristóteles. A ciência do homem para o homem.  E nesta definição não cabem seres menores dependentes de entidade invisíveis e amorais: os mercados.
Porque os mercados cobram tudo: experimentem não pagar qualquer prestação e verão a disponibilidade dos mercados para "negociar", palavra tão usada pelos banqueiros, os ditos  mentores do mercado financeiro. O "negociar" traduz-se em juros, ameaças, penhoras e outras coisas mais. Por isso nada devemos aos mercados porque lhes pagamos tudo, seja de que forma for.
. Quando a vida nos corre mal os mercados não nos "acalmam". E isso leva-me à segunda questão: em que ética, em que fundamento político, em que valor assenta a frase " acalmar os mercados"? E porque não ouvimos ( esta frase é do maravilhoso professor Roque Amaro) que temos de acalmar as pessoas? Desde quando, a entidade não não conhecemos é mais importante do que a vida humana? Quando se debate tanto o valor da vida ( vejam as inúmeras opiniões pró e contra aborto) não será que acalmar as pessoas devia ser o principal motivo político?
E nós, sociedade civil? Porque não tomamos uma posição política?  Porque nos sujeitamos a " acalmar os mercados e não acalmar as pessoas"?  A partir de que momento ficámos tão aniquilados na nossa  pouca humanidade, naquilo que é o mais profundo de nós, em que momento esquecemos a fraternidade? E em nome de quê? De mercados que não conhecemos? Em nome de quê engolimos a mentira e não lutamos pela restituição do valor maior, a fraternidade? 
Gostava, que como disse Aristóteles que o bem triunfasse. Mas para isso é preciso uma comunidade política. Que somos todos nós. E que pensemos sempre que primeiro se devem acalmar as pessoas.As pessoas!

"Vemos que toda cidade é uma espécie de comunidade, e toda comunidade se forma com vistas a algum bem, pois todas as ações de todos os homens são praticadas com vistas ao que lhes parece um bem; se todas as comunidades visam a algum bem, é evidente que a mais importante de todas elas e que inclui todas as outras tem mais que todas este objetivo e visa ao mais importante de todos os bens; ela se chama cidade e é a comunidade política"( Aristóteles, Pol., 1252a).




domingo, 22 de julho de 2012

A insuportável Adele.


Nunca percebi o fenómeno Adele. Cada um gosta do que gosta e ponto final. Mas já agora vamos falar um bocadinho sobre isso. A Adele escreveu, cantou, divulgou,desgastou e matou-me de tédio com  uma música chamada " Someone like you", que foi um hit de likes no facebook e, pelos vistos, um hit de vendas também. Se o sucesso fosse só em Inglaterra, país europeu das mães adolescentes e solteiras, estava tudo muito bem. Mas a insuportável Adele é um fenómeno worlwide ( que é como quem diz, um fenómeno mundial). E tudo porque escreveu A canção da baixa auto-estima,  a famosa Someone like you. Analisemos ao pormenor esta canção tão pouco poética. Segundo a Adele, esta canção foi escrita para exorcizar o fim de uma relação. E o que é que ela diz : que alguém lhe contou que o  sujeito tinha casado, portanto nem sequer foi o próprio a dizer-lhe.  Que alma caridosa! Nesta altura já tínhamos mudado de rádio mas não, milhares de pessoas continuaram a ouvir esta tragédia em que a Adele chora e diz que os sonhos desse rapaz por fim se tinham concretizado. E que a Adele não lhe conseguiu dar as coisas que a outra lhe deu. E agora, pensamos nós, que a música evolui para qualquer coisa como: eu sou tão maravilhosa, tu é que és um parvo e não percebeste, um limitado qualquer etc... Era o mínimo.
Pois não. A canção grita a plenos pulmões (ou a Adele) para que ele não se preocupe (pois claro, deve estar a morrer de preocupação, casado e feliz com outra) que a senhora vai encontrar outro como ele: ou seja o tipo que a deixou, que nem sequer lhe disse que ia casar e que agora está feliz e longe dela. E a rapariga quer OUTRO como ele! O Quê?? Mas como é que alguém no seu perfeito juízo quer outro como ele???
Caros leitores, eu não percebo grande coisa sobre amores ou outras desgraças nas vidas alheias, mas de uma coisa tenho a certeza:Quem nos deixa sem dizer cavaco merece uma terrível pena, desprezo ou outro qualquer sentimento deste género. Agora não merece que se cante que se vai procurar outro como ele. Ou ela. Merece sim que digamos: olha paciência, correu mal, foste um erro de casting, mas haverá com certeza alguém tão maravilhoso por aí à procura de alguém tão esplendoroso como eu!
Eu espero que o sucesso desta música em Portugal derive apenas de duas coisas: a maioria das pessoas ainda não percebe bem o inglês ou a voz da Adele é tão bonita que não se liga ao que a senhora canta.
E que não exista assim tanta gente com tão  baixa auto- estima ou parvoíce hereditária que cometa os mesmos erros vezes sem conta.
Porque a coisa mais sexy que o ser humano tem (quer os homens quer as mulheres) é a sua personalidade. E esta música, meus caros, tem muito pouca!