De 1955 até ao 25 de Abril, saíram de Portugal cerca de
92000 mil pessoas por ano. Em 2013 emigraram 120 mil portugueses, um número
assustador. Os portugueses saem porque não há trabalho e porque é impossível
abrir uma empresa em Portugal: os impostos são altíssimos, as burocracias
indecifráveis e qualquer empreendedor tem contar com salários, segurança
social, IRC, seguros de trabalho, médicos do trabalho, mais as despesas do
dia-a-dia. Se uma máquina avaria, os preços baixos praticados para concorrer
com a China tornam impossível manter as empresas abertas.E não se cria qualquer
legislação onde se proíbaa importação de artigos produzidos por escravos
do capitalismo sem direitos civis. É o mercado livre dizem os capitalistas, é o
comunismo amigo dizem os comunistas. E por isso as empresas obrigadas, e
bem, a cumprir direitos mas sem protecção contra os produtos baratos, feitos por gente sem direitos, declaram falência e emigram juntos patrões e
empregados, lado a lado. Os bancos não emprestam e requerem de volta
rapidamente o dinheiro emprestado e juros abusivos. Entregam-se fábricas e
escritórios que ficam ao abandono, sem produzir e sem criar valor. Os bancos
não os conseguem vender e interrogo-me porquê estas expropriações que não levam
a nada. O governo não contrata e não abre empregos, mas deixa que os Recibos
Verdes se propagem e deixa que empresas menos sérias ofereçam
empregos sem remuneração, baseados nos objectivos. Se vender recebem, se não
venderem azar para eles, não para as empresas. Ou então fazem estágios
profissionais em empresas viciadas em estágios profissionais. Os mais novos,
aqueles que os mais velhos acusam de ter tudo e não se sujeitar a nada, emigram
na procura de uma vida que não é melhor porque não há qualquer comparação: aqui
não há vida, naqueles países para onde se vai ainda há. E neste país que não consegue
empregar nem tratar bem os empregadores nem os empregados, emigramos todos
porque não podemos ficar. Não há ninguém que regule e saiba governar este país?
Não. Sobem-se impostos, destroem-se ainda mais empresas, cria-se mais
desemprego. E a Alemanha vende BMW para a China e electrodomésticos caros para
os países emergentes. E Portugal derruba as últimas indústrias e os últimos
estaleiros. E nós pagamos dívidas dos bancos não contraídas por nós, mas com
aquele sentimento de culpa "que vivemos acima das nossas oportunidades
“porque os nossos avós eram analfabetos e nós temos estudos e casa e carro e viagens.
Uma verdadeira provocação às famílias de bem que não aguentam que outros
tenham o que eles sempre tiveram sempre. Direitos naturais, ouvi
dizer, ou primos em Bancos e dinheiro mal vigiado. E a imprensa faz-nos sentir
culpados ou miseráveis e defendemos que temos todos de pagar a crise,
trabalhando mais em empregos que não existem ou emigrando. 120 mil saíram. O
que é preciso para que estas políticas de austeridade saiam de vez do
nosso horizonte?
Concepción Arenal.
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