domingo, 22 de dezembro de 2013

O trauma da emigração


De 1955 até ao 25 de Abril, saíram de Portugal cerca de 92000 mil pessoas por ano. Em 2013 emigraram 120 mil portugueses, um número assustador. Os portugueses saem porque não há trabalho e porque é impossível abrir uma empresa em Portugal: os impostos são altíssimos, as burocracias indecifráveis e qualquer empreendedor tem contar com salários, segurança social, IRC, seguros de trabalho, médicos do trabalho, mais as despesas do dia-a-dia. Se uma máquina avaria, os preços baixos praticados para concorrer com a China tornam impossível manter  as empresas abertas.E não se cria qualquer legislação onde  se proíbaa importação de artigos produzidos por escravos do capitalismo sem direitos civis. É o mercado livre dizem os capitalistas, é o comunismo amigo dizem os comunistas. E por isso  as empresas obrigadas, e bem, a cumprir direitos  mas sem protecção contra os produtos baratos, feitos por gente sem direitos, declaram falência e emigram juntos patrões e empregados, lado a lado. Os bancos não emprestam e requerem de volta rapidamente o dinheiro emprestado e juros abusivos. Entregam-se fábricas e escritórios que ficam ao abandono, sem produzir e sem criar valor. Os bancos não os conseguem vender e interrogo-me porquê estas expropriações que não levam a nada. O governo não contrata e não abre empregos, mas deixa que os Recibos Verdes se propagem e deixa que  empresas menos sérias ofereçam empregos sem remuneração, baseados nos objectivos. Se vender recebem, se não venderem azar para eles, não para as empresas.  Ou então fazem estágios profissionais em empresas viciadas em estágios profissionais. Os mais novos, aqueles que os mais velhos acusam de ter tudo e não se sujeitar a nada, emigram na procura de uma vida que não é melhor porque não há qualquer comparação: aqui não há vida, naqueles países para onde se vai ainda há. E neste país que não consegue empregar nem tratar bem os empregadores nem os empregados, emigramos todos porque não podemos ficar. Não há ninguém que regule e saiba governar este país? Não. Sobem-se impostos, destroem-se ainda mais empresas, cria-se mais desemprego. E a Alemanha vende BMW para a China e electrodomésticos caros para os países emergentes. E Portugal derruba as últimas indústrias e os últimos estaleiros. E nós pagamos dívidas dos bancos não contraídas por nós, mas com aquele sentimento de culpa "que vivemos acima das nossas oportunidades “porque os nossos avós eram analfabetos e nós temos estudos e casa e carro e viagens. Uma verdadeira provocação às famílias de bem que não aguentam que  outros tenham  o que  eles sempre tiveram sempre. Direitos naturais, ouvi dizer, ou primos em Bancos e dinheiro mal vigiado. E a imprensa faz-nos sentir culpados ou miseráveis e defendemos que temos todos de pagar a crise, trabalhando mais em empregos que não existem ou emigrando. 120 mil saíram. O que é preciso para que estas políticas de austeridade  saiam de vez do nosso horizonte? 

Quando a culpa é de todos, a culpa não é de ninguém.
Concepción Arenal.

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