sábado, 28 de dezembro de 2013

Mulheres que não choram

Lembro-me perfeitamente. Estava a dar um filme romântico, mas daqueles maus, em que a história é uma pastelada e a música perfeita para suicídio assistido,  e eu gozei com a história, com a música, com os planos curtos e longos, com o blarghh que o filme era. E o rapazito da altura disse-me " tu não choras nos filmes, não és como as outras mulheres". Parei. Não pela ofensa de não chorar, não pela ofensa de não ser como as outras mulheres, mas pela presunção de que não tenho sensibilidade porque não choro nos filmes. Meus queridos leitores, vocês sabem que eu não digo nem escrevo palavrões, mas apetece-me até hoje mandar a" menina "a passear num sítio feio e cheio de maus cheiros corporais. Ou obrigá-lo a ver o Titanic, O Nosso Amor de Ontem e um musical da Bárbara Streisand a ver se as lágrimas de emoção saltam. Não? Pois a mim também não!
Não, eu não choro por banalidades. Choro quando as coisas são graves: quando perco alguém de quem gosto, quando dizem mal dos meus amigos, quando me maltratam. Mas em privado, sem tretas. E não uso o choro para conseguir coisas, como muitas colegas usam para se safarem ao trabalho ou causarem pena e atenção redobrada. Não, não uso o choro para nada disso e reprovo mulheres que fazem papelão de vítima para conseguirem coisas .Deixam mal todas as outras mulheres que usam métodos honestos para estar no trabalho, na vida, no cinema.
E, sobretudo, em pleno século XXI,  avaliarmos a sensibilidade feminina pelo choro e a macheza de homem pelo não uso de lágrimas, é a mesma coisa que usar galochas em plena praia de Copacana. 
Mulheres que não choram: unamo-nos contra a parvoíce vigente de que  as mulheres  são todas umas pétalas que choram com casais apaixonados ou separações lacrimoniosas que passam no pequeno ou grande ecrã. Use-se as lágrimas para onde elas são precisas: dores e desilusões. Ah, e isso de chorarem no casamento por emoção da ver a amiga casar é treta e vocês sabem: são apenas ciúmes remoídos por não ser o vosso dia.  

Lágrimas não são argumentos.
Assis, Machado.


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