Lembro-me perfeitamente. Estava a dar um filme romântico, mas
daqueles maus, em que a história é uma pastelada e a música perfeita para
suicídio assistido, e eu gozei com a história, com a música, com os
planos curtos e longos, com o blarghh que o filme era. E o rapazito da altura disse-me " tu não choras nos filmes, não és como as outras
mulheres". Parei. Não pela ofensa de não chorar, não pela ofensa de não
ser como as outras mulheres, mas pela presunção de que não tenho sensibilidade
porque não choro nos filmes. Meus queridos leitores, vocês sabem que eu não digo
nem escrevo palavrões, mas apetece-me até hoje mandar a" menina "a
passear num sítio feio e cheio de maus cheiros corporais. Ou obrigá-lo a ver o
Titanic, O Nosso Amor de Ontem e um musical da Bárbara Streisand a ver se as
lágrimas de emoção saltam. Não? Pois a mim também não!
Não, eu não choro por banalidades. Choro quando as coisas são
graves: quando perco alguém de quem gosto, quando dizem mal dos meus amigos,
quando me maltratam. Mas em privado, sem tretas. E não uso o choro para
conseguir coisas, como muitas colegas usam para se safarem ao
trabalho ou causarem pena e atenção redobrada. Não, não uso o choro para nada
disso e reprovo mulheres que fazem papelão de vítima para conseguirem coisas
.Deixam mal todas as outras mulheres que usam métodos honestos para estar no
trabalho, na vida, no cinema.
E, sobretudo, em pleno século XXI, avaliarmos a
sensibilidade feminina pelo choro e a macheza de homem pelo não uso de
lágrimas, é a mesma coisa que usar galochas em plena praia de Copacana.
Mulheres que não choram: unamo-nos contra a parvoíce vigente de
que as mulheres são todas umas pétalas que choram com casais apaixonados
ou separações lacrimoniosas que passam no pequeno ou grande ecrã. Use-se as
lágrimas para onde elas são precisas: dores e desilusões. Ah, e isso de
chorarem no casamento por emoção da ver a amiga casar é treta e vocês sabem:
são apenas ciúmes remoídos por não ser o vosso dia.
Lágrimas não são argumentos.
Assis, Machado.
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