segunda-feira, 29 de julho de 2013

Adeus posto de correios...


Na aldeia onde vive a minha família não há posto dos CTT mas a junta de freguesia faz as vezes do correio. Todos os dias, gente da terra vai levantar o seu vale de reforma. As funcionárias da junta já sabem que a senhora Maria recebe tanto e o senhor Manuel outro tanto. Sabem o valor exacto que cada um recebe e guardam o dinheiro religiosamente dias antes para aquele casal de velhotes que não sabe ler nem escrever receba a sua merecida e magra reforma. As funcionárias da junta também lêem cartas da família e enviam remessas de dinheiro para o estrangeiro sempre que lhes pedem. Conhecem toda a gente e toda a gente as conhece. Sei até que, algumas vezes, vão entregar o dinheiro da reforma a casa dos mais velhos que estão acamados e que, sem família por perto, dependem da boa vontade das funcionárias da Junta.
O correio é um bem essencial num país envelhecido em que a taxa de analfabetismo é enorme entre a população mais idosa que não confia nos bancos ( e já vimos que têm razão), recebe reformas vergonhosas, e que sem a ajuda de muitos funcionários dos CTT ou das juntas de freguesia não teriam forma de receber a sua reforma.
Se eu não vivesse neste mundo e me fechasse só no meu, o fecho dos Correios fecharem era-me quase indiferente. Sou “moderna”, sei enviar emails, levantar dinheiro num ATM, fazer depósitos automáticos.
Mas eu não vivo no mundo sozinha. No meu mundo vivem crianças, adultos e idosos. Que não sabem ler. Que dependem da boa vontade de muitos funcionários dos Correios que lhes lêem as cartas das finanças ( que jeito que dá para o Estado). Que lhes lêem as cartas que chegam de longe. Que lhes guardam as reformas. Que são parte da sua família.
Privatizar os correios é retirar a uma inteira geração um porto de abrigo e de segurança sem razão, sem necessidade. Mais do que uma empresa pública, os correios são a ponte entre os que o Estado de Salazar abandonou e o estado moderno que Sócrates inventou. Mas a Maria e o Manuel deste país também são cidadãos de pleno direito. E têm direito ao seu correio


" Oh yes, wait a minute mister postman
Wait, wait mister postman
(Mister postman look and see) oh yeah
(If there's a letter in the bag for me)
"

Please Mr Postman, Beatles.

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