terça-feira, 23 de julho de 2013

A Nigella que há em nós.


Nigella Lawson foi notícia este mês em todos os tablóides e jornais sérios do Mundo,  não pela sua comida mas por ter sido vítima da agressão do seu milionário marido. As imagens mostram nitidamente o marido a apertar-lhe o pescoço numa esplanada pública  e a Nigella a contorcer-se de medo ou de dor ou de ambos. Toda a gente condenou a violência doméstica, muitos condenaram o marido e alguns a Nigella por não ter " qualquer necessidade" de se sujeitar aquela violência.
E foi na  questão da "necessidade" que eu ando a pensar desde essa altura. A violência doméstica não está exclusivamente ligada à questão material. Claro que ajuda a perpetuar a violência quando o membro agredido do casal não tem meios de subsistência para sair de casa. Mas a violência doméstica é um problema mais complexo, na minha opinião. A Nigella, como muitas mulheres e homens, criou para si ( e vendeu essa  imagem para os outros) de uma vida familiar casual, às vezes chique, muito descontraída, onde entre pratos e conversas se expressavam os mais bonitos sentimentos familiares de unidade e de afectos. E nós, e a própria Nigella, compramos essa imagem de harmonia familiar meia caótica mas tão romântica. E depois a  sociedade ainda diz coisas incriveis como  " ele(a) é tão bom para ela(e)", ou " que sorte a dela( e)". 
A teia de pequenas ilusões que criamos confunde-se tantas vezes com a realidade que queremos transmitir. E de ilusão em ilusão, não conseguimos sair da imagem de felicidade criada por nós e para nós. Se terá a Nigella ficado presa nessa armadilha é coisa que eu não posso garantir. Mas, se  nós mentimos a nós próprios com tanta facilidade, como não mentir a uma sociedade que acredita em romances de amor entre bolos perfeitos e decorações harmoniosas?
É mais fácil suportar um estalo do que o fim de um romance, ouvi uma vez uma mulher a dizer como justificação dos anos de violência doméstica a que se sujeitou. Mas há romance entre estalos e ofensas? Esta é a minha questão.
Ouça,  a Nigella também saiu de casa, e a sua vida é parecida com a da Nigella, então deite o bolo perfeito para o lixo e seja feliz. A vida é muito curta para histórias de amor falsas e vidas de purpurina... 

A violência destrói o que ela pretende defender: a dignidade da vida, a liberdade do ser humano.
João Paulo II

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