Quando
um bebé nasce, todo um outro mundo temporal se abre para os pais. Os dias voam,
as semanas passam sem dar por isso, e aquela pequena coisa que nem sequer fala
ou anda, domina dois adultos perfeitamente saudáveis e aparentemente
racionais. O que é estranho é quando esses dois adultos se esquecem que já
existiu uma vida pré-bebé e até costumavam usar uma linguagem perfeitamente
ajustada que torna o mundo entendível por todos e, de repente, falam-nos em
coisas estranhas como o percentil e as semanas de existência da criatura.
De repente, o bebé já não completa um mês, nem um mês e meio mas sim quatro
semanas, seis semanas, oito semanas. Até aqui tudo bem, o problema começa nas
vinte e oito semanas e aí não sabemos se o bebé ainda não gatinha ou se já está
a entrar na pré-adolescência. E quando os progenitores nos param de torturar
com as charadas das semanas, entram nos 16 meses da criatura e por aí fora.
Nunca hei-de saber se existe uma combinação secreta entre os que têm filhos
para torturarem os que não têm, mas desconfio que sim. Por isso, decidi que
agora à pergunta " que idade tens?" responderei 1716 semanas ou
então 396 meses e depois façam as contas. Mas o que ainda me “fascina “ainda
mais é a guerra dos percentis. Ninguém sabe o que é um percentil até ter
um puto para cuidar ou ter amigos que nos falem constantemente disso. Agora, o
verdadeiramente fascinante é assistir a uma conversa entre pais, onde ganha o
bebé que tiver o percentil maior. Eu creio que o percentil nos bebés é
equivalente às notas no liceu e, segundo os pais, deve ter uma ligação directa.
Ainda vou ouvir uma mãe a gabar-se do seu filho ter entrado em medicina porque
o percentil dele sempre foi muito elevado, já às 12 semanas o percentil era elevadíssimo!!!!
Resumindo:
semanas e percentis podem ter todo o sentido e serem dados estatísticos
completamente válidos, mas convém que os papás se lembrem que já houve um
momento que semanas se convertem em meses e depois em anos, num ritmo
completamente crescente e natural, e que percentis se transformam em gramas,
quilos e , nalguns bebés e em muitos adultos em calorias desnecessárias. E
também que se lembrem que já nos é difícil entender o bebé, não precisamos de
deixar de entender os pais.
Quando nos fazemos entender falamos sempre bem.
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