sábado, 19 de outubro de 2013

O racismo torna-nos bichos, não gente.

Anda a circular no facebook, desde há algum tempo a esta parte, um post onde se mostram dois cheques da Segurança Social com nomes de cidadãos estrangeiros com apelidos do leste da Europa.  A descrição  deste post é qualquer coisa como" não podemos tolerar mais estes ciganos e gente de leste que nos andam a roubar", etc etc. A reacção a este post é enorme: desde bandidos, a ladrões, os portugueses não se inibem de demonstrar o seu racismo e xenofobia. Há poucos dias uma grande amiga minha publicou este post. Não me contive e fui lá perguntar-lhe se conhecia aquelas pessoas. Se ela sabia porque é que aqueles visados recebiam indevidamente aquele dinheiro (tal como estava escrito no post, mas claro sem mais informação), se os conhecia. Claro que ninguém os conhecia. Todas as pessoas que me foram responder, e foram muitas, me disseram que estavam fartas de ser roubadas, que o marido está no desemprego, etc. Ninguém, absolutamente ninguém conhecia aquelas pessoas. Agora façamos um exercício diferente. Imaginem que estão a trabalhar há algum tempo em França e ficam desempregados. O estado francês paga-vos o subsídio devido e, de repente, vêem o vosso nome postado por todo o facebook, com vários franceses a vos chamarem de bandidos, ladrões, etc... Como se sentiriam, pergunto eu?
Acusar sem provas é crime, mas é sobretudo um ataque à nossa própria dignidade. É a acusação pura de maldade, sejam lá quais forem as nossas razões, aquelas pessoas não são a causa delas. Não são.
Os partidos de extrema-direita têm crescido por toda a Europa. Em tempo de crise o outro, o estranho, é o culpado da nossa desgraça. A culpa não é das políticas erradas, não é da nossa indiferença política. A culpa é do outro, apenas por esse outro existir e ser diferente de nós.
Mas há sempre sinais de esperança. Hoje assisti à entrevista do primeiro-ministro sueco à Euronews. Quando confrontado com a pergunta  (nem sequer era uma pergunta, mas sim uma afirmação da jornalista) de que a Suécia não pode aguentar mais emigração, Fredrik Reinfeldt. responde :" Eu discordo. Acho que já mostrámos que temos gerações de imigrantes que vieram para a Suécia, integraram-se na sociedade sueca e contribuíram para um tipo muito interessante de sociedade multi-étnica. Tudo isto de uma forma que eu acho que é o caminho a seguir para o futuro. O que eu acho que aconteceu, desde os anos 70 e seguintes, é que as gerações que vieram, não entraram facilmente no mercado de trabalho, como acontecia antes. Isso acontece, porque a complexidade do mercado de trabalho tem crescido. Não é tão fácil, como costumava ser. Muitos dos refugiados, as pessoas que estão a chegar agora têm muito pouca formação escolar, em tudo. Mas o que estou a dizer é que queremos resolver isso. Podemos aumentar as horas de Inglês, no sistema de ensino, porque precisamos deles. Temos uma sociedade em processo de envelhecimento que não tem filhos, em número suficiente, nascidos na Suécia. Por isso, precisamos dessas pessoas, vindas de fora da Suécia, para elevar e manter as nossas ambições de bem-estar."
Precisamos de pessoas, precisamos da sua cultura, precisamos de lhes mostrar a nossa. O que sobretudo precisamos é de olhar para cada ser com olhos de gente e não de bicho. Não acusar injustamente, não ser menos ser humano, não perder as nossas qualidades que nos tornam cada dia melhores. E sobretudo não negociar, não ceder à xenofobia, não tentar entrar em acordos com gente que nada de bom tem a dizer e estou a referir-me aos partidos de extrema direita. O primeiro-ministro da Suécia também disse que irá isolar  os partidos da extrema direita" porque a única influência em que estão interessados é no ataque aos imigrantes. E não creio que esse sentimento tenha correspondência política." O que eu gostava mesmo, em Portugal e em toda a Europa e em todo o Mundo, é que esse sentimento de mágoa contro o outro apenas por esse outro existir, só por ser diferente de nós, não tenha correspondência humana.
Porque por mais não seja, podemos ser nós a ter os nossos nomes naqueles cheques. E aí, qual será a sua posição?



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