Anda a circular no facebook, desde há
algum tempo a esta parte, um post
onde se mostram dois cheques da Segurança Social com nomes de cidadãos
estrangeiros com apelidos do leste da Europa. A descrição deste
post é qualquer coisa como" não podemos tolerar mais estes ciganos e gente
de leste que nos andam a roubar", etc etc. A reacção a este post é enorme:
desde bandidos, a ladrões, os portugueses não se inibem de demonstrar o seu
racismo e xenofobia. Há poucos dias uma grande amiga minha publicou este post.
Não me contive e fui lá perguntar-lhe se conhecia aquelas pessoas. Se ela sabia
porque é que aqueles visados recebiam indevidamente aquele dinheiro (tal como
estava escrito no post, mas claro sem mais informação), se os conhecia. Claro
que ninguém os conhecia. Todas as pessoas que me foram responder, e foram
muitas, me disseram que estavam fartas de ser roubadas, que o marido está no
desemprego, etc. Ninguém, absolutamente ninguém conhecia aquelas pessoas. Agora
façamos um exercício diferente. Imaginem que estão a trabalhar há algum tempo
em França e ficam desempregados. O estado francês paga-vos o subsídio devido e,
de repente, vêem o vosso nome postado por todo o facebook, com vários franceses
a vos chamarem de bandidos, ladrões, etc... Como se sentiriam, pergunto eu?
Acusar sem provas é crime, mas é
sobretudo um ataque à nossa própria dignidade. É a acusação pura de maldade,
sejam lá quais forem as nossas razões, aquelas pessoas não são a causa delas.
Não são.
Os partidos de extrema-direita têm
crescido por toda a Europa. Em tempo de crise o outro, o estranho, é o culpado
da nossa desgraça. A culpa não é das políticas erradas, não é da nossa
indiferença política. A culpa é do outro, apenas por esse outro existir e ser
diferente de nós.
Mas há sempre sinais de esperança. Hoje
assisti à entrevista do primeiro-ministro sueco à Euronews. Quando confrontado
com a pergunta (nem sequer era uma pergunta, mas sim uma afirmação da
jornalista) de que a Suécia não pode aguentar mais emigração, Fredrik
Reinfeldt. responde :" Eu
discordo. Acho que já mostrámos que temos gerações de imigrantes que vieram
para a Suécia, integraram-se na sociedade sueca e contribuíram para
um tipo muito interessante de sociedade multi-étnica. Tudo isto de uma forma
que eu acho que é o caminho a seguir para o futuro. O que eu acho que
aconteceu, desde os anos 70 e seguintes, é que as gerações que vieram, não
entraram facilmente no mercado de trabalho, como acontecia antes. Isso
acontece, porque a complexidade do mercado de trabalho tem crescido. Não é tão
fácil, como costumava ser. Muitos dos refugiados, as pessoas que estão a chegar
agora têm muito pouca formação escolar, em tudo. Mas o que estou a dizer é que
queremos resolver isso. Podemos aumentar as horas de Inglês, no sistema de
ensino, porque precisamos deles. Temos uma sociedade em processo de
envelhecimento que não tem filhos, em número suficiente, nascidos na Suécia.
Por isso, precisamos dessas pessoas, vindas de fora da Suécia, para elevar e
manter as nossas ambições de bem-estar."
Precisamos de
pessoas, precisamos da sua cultura, precisamos de lhes mostrar a nossa. O que
sobretudo precisamos é de olhar para cada ser com olhos de gente e não de
bicho. Não acusar injustamente, não ser menos ser humano, não perder as nossas
qualidades que nos tornam cada dia melhores. E sobretudo não negociar, não
ceder à xenofobia, não tentar entrar em acordos com gente que nada de bom tem a
dizer e estou a referir-me aos partidos de extrema direita. O primeiro-ministro
da Suécia também disse que irá isolar os partidos da extrema
direita" porque a única influência
em que estão interessados é no ataque aos imigrantes. E não creio que esse
sentimento tenha correspondência política." O que eu gostava mesmo, em
Portugal e em toda a Europa e em todo o Mundo, é que esse sentimento de mágoa
contro o outro apenas por esse outro existir, só por ser diferente de nós, não
tenha correspondência humana.
Porque por mais não
seja, podemos ser nós a ter os nossos nomes naqueles cheques. E aí, qual será a
sua posição?
Para ler toda
a enrevista, clique aqui: http://pt.euronews.com/2013/10/15/primeiro-ministro-da-suecia-em-entrevista-a-euronews-articular-a-austeridade-/
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