Quando
eu era estudante, de História, já sabia que não ia existir emprego para mim. Já
em 1998 existiam dificuldades em entrar para museus, câmaras ou empresas
culturais. Dar aulas era a opção nº 1 mas na prática, sem ter o curso da via
ensino, era a opção nº 1000.Mas existia em 1998 uma coisa que morreu em 2014: a
esperança. Eu tinha esperança que as coisas mudassem, nós tínhamos esperança
num Mundo melhor, num Portugal melhor. Passaram 12 anos e Portugal piorou, não de ano para ano, mas de mês para mês e de dia para dia porque deixamos de viver acima das
possibilidades e passamos a viver no limiar na pobreza. O castigo que nos
impuseram é enorme. E porque é que nos castigaram? Porque nos atrevemos a abrir
empresas, a ir passar 15 dias de férias ao Algarve, a colocar os
filhos na Universidade, a diminuir a mortalidade das mães no parto, a diminuir
os riscos para os filhos no momento em que vêm à vida. E a cuidar bem dos bebés
nos primeiros anos de vida, com um programa de cuidados pré-natais únicos. E
porque nos atrevemos a apostar na investigação científica com bons resultados e
nos atrevemos a ir ao teatro, ao cinema, à dança. A economia sempre
foi difícil neste país, mas não eramos castigados por sonhar. Só que na sombra,
velhos poderes que não conseguem conceber um Mundo igual entre todos nós, esperaram
a sua vez para sair das sombras e nos acusarem a todos de despesismo, de austeridade,
até de imoralidade. Porque esta é, segundo muitos, uma crise de valores. Que isto
de os pobres passarem a ser classe média é um valor que muitos não concebem,
não aceitam. Mas aceitam-se valores como uma banca desregulada, controlada por
essa gente de bem (que só o são por terem bens) que acumula valores materiais
por não ter escrúpulos. E aceitam-se cortes nas reformas dos mais velhos, e
aceitam-se cortes no subsídio de reinserção, que é o pão na mesa de muita
gente. Mas não se baixam impostos para os pequenos empresários, não se acabam
com os recibos verdes falsos, nem se tocam nos lucros das grandes empresas. Mas
pior que tudo, esta gente matou-nos a esperança. E isto, a morte da esperança, mais
do que tudo o resto que nos tiraram, não lhes podemos mesmo perdoar.
A esperança é o sonho do homem acordado
Aristóteles
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