domingo, 9 de fevereiro de 2014

Esperança, não entres em coma e fica comigo por favor...

Quando eu era estudante, de História, já sabia que não ia existir emprego para mim. Já em 1998 existiam dificuldades em entrar para museus, câmaras ou empresas culturais. Dar aulas era a opção nº 1 mas na prática, sem ter o curso da via ensino, era a opção nº 1000.Mas existia em 1998 uma coisa que morreu em 2014: a esperança. Eu tinha esperança que as coisas mudassem, nós tínhamos esperança num Mundo melhor, num Portugal melhor. Passaram 12 anos e Portugal piorou, não de ano para ano, mas de mês para mês e de dia para dia porque deixamos de viver acima das possibilidades e passamos a viver no limiar na pobreza. O castigo que nos impuseram é enorme. E porque é que nos castigaram? Porque nos atrevemos a abrir empresas, a ir passar 15 dias de férias ao Algarve,   a colocar os filhos na Universidade, a diminuir a mortalidade das mães no parto, a diminuir os riscos para os filhos no momento em que vêm à vida. E a cuidar bem dos bebés nos primeiros anos de vida, com um programa de cuidados pré-natais únicos. E porque nos atrevemos a apostar na investigação científica com bons resultados e nos atrevemos a ir ao teatro, ao cinema, à dança. A economia sempre foi difícil neste país, mas não eramos castigados por sonhar. Só que na sombra, velhos poderes que não conseguem conceber um Mundo igual entre todos nós, esperaram a sua vez para sair das sombras e nos acusarem a todos de despesismo, de austeridade, até de imoralidade. Porque esta é, segundo muitos, uma crise de valores. Que isto de os pobres passarem a ser classe média é um valor que muitos não concebem, não aceitam. Mas aceitam-se valores como uma banca desregulada, controlada por essa gente de bem (que só o são por terem bens) que acumula valores materiais por não ter escrúpulos. E aceitam-se cortes nas reformas dos mais velhos, e aceitam-se cortes no subsídio de reinserção, que é o pão na mesa de muita gente. Mas não se baixam impostos para os pequenos empresários, não se acabam com os recibos verdes falsos, nem se tocam nos lucros das grandes empresas. Mas pior que tudo, esta gente matou-nos a esperança. E isto, a morte da esperança, mais do que tudo o resto que nos tiraram, não lhes podemos mesmo perdoar.
A esperança é o sonho do homem acordado

Aristóteles

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