terça-feira, 5 de março de 2013

Hipocrisia, essa doença mortal.


O homem é o lobo do homem, citou Hobbes. Hobbes, homem e filósofo, acreditava que o homem é um ser movido por egoísmos e desejos pessoais e, que só por pura sobrevivência da espécie, convive socialmente.
Hobbes não tem uma visão muito positiva sobre a humanidade, isso é certo. E lembrei-me de Hobbes hoje porque alguém me perguntou algo sobre a hipocrisia.
A hipocrisia é uma doença grave, sobre a qual nunca reflecti realmente. Mas depois de ler Hobbes, concluí que a hipocrisia pode ser o tal mecanismo de sobrevivência de que o filósofo falava. E não estou a falar de pequenas mentiras ou outras coisas que se fazem pelo bem-estar da sociedade. Não, isso não é hipocrisia. Hipocrisia é o mais elevado instinto de sobrevivência e, ao mesmo tempo, de aniquilação da espécie humana que conhecemos. A hipocrisia, quando bem aplicada, exclui um membro da tribo para toda a vida. A hipocrisia, quando bem aplicada, é mortal. E a hipocrisia, porque é sempre camuflada, é difícil de detectar.
Mas deixa rasto. É a beata, pregadora do bem, e difusora ambulante dos maiores boatos, mentiras e conspirações. É o pai de família, católico e conservador, homossexual. É o pai e mãe de família, pilares da sociedade local, pedófilos. É o grande militante comunista, o maior forreta com os que mais precisam. É a senhora que segura bandeiras contra o aborto e que já fez cinco (visto ao vivo, em 1998, na RTP 1). É a menina bem comportada, um verdadeiro modelo, viciada em heroína. São as pessoas que não falam da vida dos outros, "porque a vida dos outros não me interessa" mas não se calam sobre esse assunto. São as pessoas que odeiam madeixas e unhas pretas até estarem na moda e todos as usarem. São as amigas do coração que nos envergonham (não propositadamente claro!) em público.
Poderíamos continuar a escrever sobre este assunto durante horas. Porque todos nós já fomos vítimas ou perpetuadores de hipocrisia. Ou fomos ambos. E, no nosso pequeno país, durante tento tempo enclausurado numa ditadura em que não podíamos pensar, os nossos mecanismos de hipocrisia aperfeiçoaram-se. O que me intriga é que passados 30 anos de liberdade, a mesma hipocrisia renovou-se a tornou-se mais acutilante.
Se o homem é o homem do lobo, então a hipocrisia é a sua melhor arma.
Mas talvez fosse tempo de deixarmos o nosso lado animal de lado e nos tornarmos o homem que é amigo do homem. Que seja tempo de mais homem e menos lobo.
Ora, quem é que eu quero enganar? Isso é pouco possível de acontecer. Não sejam hipócritas!

O homem é o lobo do homem.
Plauto, citado por Hobbes in Leviatan

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