sexta-feira, 10 de maio de 2013

Os meus avós.


O meu avô não sabia ler nem escrever. A minha avó também não. Nascidos na década de 20, de famílias pobres, não havia sequer escola na aldeia onde foram crianças. Tiveram 10 filhos, todos frequentaram a escola primária. Um luxo, naqueles tempos. Só a mais nova conseguiu tirar o nono ano. A minha mãe só voltou a estudar depois dos 50, naquele programa que muitos não gostaram, mas que se chama Novas Oportunidades e que foi, de facto, uma oportunidade para ela. E continua a ser, porque até agora não mais parou de estudar.
Os meus avós eram pessoas pouco políticas, viveram durante o Estado Novo, onde nunca se falava de nada. Educaram os filhos como puderam, com direitos e regalias diferentes quer fossem homens ou mulheres. Porque era assim, não era de outra forma.
O meu avô, se ainda fosse vivo, teria um corte na sua pensão de duzentos e poucos euros. Porque trabalhou pouco e viveu acima das suas possibilidades, com certeza. Ninguém se lembra, dos meninos de fato sentados no parlamento, que Salazar tinha medo da educação e que poucos tinham acesso a ela. Que a grande maioria dos adultos deste país é analfabeto ou só tem a quarta classe. Que muitos arranjavam emprego por causa dos pequenos poderes instalados e que a função pública era (e é, muitas vezes) um luxo. Mas não para todos. Não para as empregadas de limpeza que ganham o ordenado mínimo, por exemplo. Há reformados de luxo, mas esses são os filhos de boas famílias que tiveram a sorte de estudar. Nada contra, todos deveriam ter tido este direito, que fique claro. Mas assim não foi, e os milhões de pobres trabalhadores, agricultores, operários e muitos outros, que não sabem ler nem escrever, que nunca se revoltaram porque viveram primeiro em ditadura e depois viveram sem saber o que fazer e qual o seu lugar. Quando não se pode pensar, não se pensa. Vive-se a apalpar terreno, a tentar não errar, nem ferir quem nos possa fazer mal.
Não se muda a história, e a nossa é triste. E não se podem cortar milhões em reformas de muitos que recebem muito pouco. Porque a nossa vida raramente é escrita por nós e sim pelos outros, pelos que mandaram, pelos que puderam.
E é isto que qualquer governante deve perceber: para mandar na vida dos outros é preciso percebê-la. E as nossas elites, ontem como hoje, são más a história e más governantes. E é tristeza em tristeza, de injustiça em injustiça, o meu país vai definhando e nunca se cumprindo. Falta sempre cumprir Portugal...

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