terça-feira, 21 de maio de 2013

As mulheres sem filhos.

Este é provavelmente o post mais pessoal que irei publicar, mas creio que existe uma pequena grande maioria que se vai identificar comigo: as mulheres sem filhos. Há uma certa idade em que nos perguntam quantos filhos gostávamos de ter, numa alusão a um futuro que não podia ser de outra maneira. Até aí tudo bem. Depois dos trinta parece que existe uma caça às mulheres  sem filhos. Todos os dias, a todas a horas, me perguntam quando é que eu vou ter filhos. O mais estranho é que nem são os mais pais, que jamais me fizeram essa pergunta. O mais estranho é que é toda a gente, mas absolutamente toda a gente que me faz esta pergunta. Parece que uma pessoa tem de saber se quer ter filhos ou se não quer, que essa pergunta vem no ADN. Nem sequer vou ser cínica: já muitas vezes perguntei a várias mulheres se iam ter filhos. É a pergunta básica desbloqueadora de conversa quando já se é mais que conhecida e menos que amiga . Por isso percebo que me perguntem, tudo bem.O problema vem depois da resposta: se sim, somos obrigados a dar uma data, logo, ali naquele momento. E nomes de filhos e filhas. Se não, começa a tragédia: porque não? Porque não?
Eu não sei a resposta a essa pergunta. A nenhuma dessas perguntas.Sentindo-me uma ave rara, falei com outra amiga que não sabe também a resposta a essa pergunta. Ao que ela me aconselhou a responder sempre a mesma coisa ah, é para o ano. E para o ano repete-se a resposta ah, é para o ano.
Nada contra quem quer ter filhos. Adoro os filhos das minhas amigas, a maioria delas até se tornou mais interessante depois de ser mãe, mesmo mulheres que eram extraordinariamente interessantes. Mas também nada contra quem não quer, quem opta pelo conforto, pelas não preocupações.E portanto nada tenham contra quem ainda não sabe, quem ainda não decidiu.
Num mundo assolado pela crise, por uma perda de todas as nossas referências de segurança, por tantas tragédias, ter um filho é um acto de coragem e uma benção, acredito solenemente nisso.  E tenho o maior  respeito pela dor de quem quer ser mãe e não pode. Portanto, respeitem-nos a nós mulheres indecisas, eu e milhares de mulheres que a cada dia se sentem julgadas pela pergunta ou pela resposta.Tenho vontade de fugir na hora e eu não sou pessoa de fugir de nada. Por isso vamos fazer uma promessa:quando uma mulher disser que é para o ano, que ainda está a decidir, que não sabe, terminem a conversa porque essa é a resposta final.As mulheres indecisas agradecem o não contrangimento e o não julgamento.

Atentamente, em nome das mulheres indecisas.

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