terça-feira, 23 de abril de 2013

Búzios, tarot, cartas e magia... Ou tudo aquilo em que queremos acreditar.

A ciência é a nova fé de muitos que se consideram, como eu, gente do século XXI. Acredito na razão, nas explicações científicas, em fenómenos naturais. E, inocentemente, acreditava que todos pensavam como eu. Que isto dos tarots até tem piada mas é uma vez. Que aquela amiga que lê as mãos o faz por graça. Que as pedras são uma coisa gira para se ter na carteira até se perderem. Eu pensava que todos pensavam como eu nestes assuntos. Que mais ninguém acreditava em bruxas e bruxarias. Mas foi só começar a puxar o novelo, e pouco a pouco as cartas caíram tal como a minha estupefacção. Que aquela amiga acertou nisto e naquilo. Que a doença foi curada. Que desde que começou a ir "lá "as coisas melhoraram. Que há gente que nos quer mal. Que ele parece que está enfeitiçado. Brinca ,brinca, mas nunca se sabe.
Eu não acredito porque não quero acreditar. E não quero acreditar porque dar apenas a hipótese  de acreditar  no sobrenatural, na magia, no que lhes quiseram chamar, pode me levar para longe da minha verdadeira crença: a humanidade, o ser humano, com tudo o de bom e com tudo de mal.
Eu não acredito porque no caminho do imaterial está sempre presente a pequena  e a grande inveja, os jogos de poder, as nossas incapacidades de aceitar que o nosso amor gosta de outro alguém e que eventualmente  todos vamos morrer, seja tarde ou cedo, agora ou depois.
Compreendo e aceito a dor imensa que é lidar com tudo isto. Existem momentos em que ter de lidar com a dor nos consome, que admitir que vamos perder alguém é demasiado para nós,  que angústia de só termos um presente para viver e um futuro que é sempre incerto nos toma conta da razão e da emoção. Tão bom que era conhecer toda a história para a podermos mudar e, quem sabe, acrescentar finais felizes.
E aceito que no meio da dor, quando a ciência já não dá respostas, só a fé em algo torna possível a sobrevivência de nós. Mas sei, que nada mais há que a vida nas suas imensas dimensões: amor, ódio, raiva, desespero, esperança.
E não condeno que se busquem soluções desesperadas para situações angustiantes. Mas entre o procurar “algo” no desespero e viver o dia-a-dia acreditando que nos fazem mal, que o nosso amor se foi embora não por nós mas por feitiço, é colocarmos as nossas capacidades reais e humanas em muito boa conta. E de pequena ilusão em pequena ilusão, trilhamos um caminho sem retorno. Procuramos sempre outros culpados para as nossas histórias e novas soluções para os nossos problemas. E para a nossa ignorância, não há magia que nos acuda.

Tudo quanto se destina a surtir efeito nos corações, do coração deve sair.
Goethe




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