A evocação de tempos passados sempre me agradou. Talvez por
tentar entender o que se passou antes da minha existência, me tenha levado a
seguir História e a procurar nos que me antecederam respostas para o meu
presente. Se penso que isto é errado e aquilo é certo é porque os me
antecederam me deram uma cultura e uma visão do mundo que me moldou e molda.
Ninguém nasce livre e inocente, nascemos dentro de uma sociedade e de sua visão.
Mas nunca me senti confortável com a evocação do meu próprio
passado e nunca dele tive saudades. Não porque a minha vida não tenha sido boa
(foi) mas porque eu acredito que o melhor está sempre para vir e a felicidade
está sempre no que iremos fazer. Não significa isto que não me lembre com
saudades dos que já partiram ou que não recorde com carinho todos os bons
momentos que partilhei com tantas pessoas. Mas transformar esses momentos no
momento áureo da nossa vida, no pico máximo da felicidade que já passou e nunca
mais podemos voltar a ter, é viver de memórias e perder o futuro. Até porque
tantas vezes nos esquecemos que esses momentos bons também foram antecedidos de
coisas más ou nem sequer foram assim grande coisa. E quando vejo nas redes
sociais uma foto do passado e alguém a comentar “ saudades ou momentos únicos”
não deixo de pensar se os momentos foram assim tão bons e se as saudades não podem ser colmatadas com
um café, um almoço ou apenas um telefonema. Porque é tão prático evocar o
passado mas não fazer um esforço para estar no presente. Uma foto é bonita mas
nada substitui a presença física, o beijo e o abraço. Nada.
E entre um like no
face ou um beijinho em mim, eu escolho o presente. Venham beijos e abraços.
Venha o presente e o futuro.Venham novas memórias, novos amigos, novos
momentos sempre e sempre e sempre.
"Vivo sempre no
presente. O futuro, não o conheço. O passado, já o não tenho."
Fernando Pessoa, Livro
do Desassossego.
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