Não tenho essas coisas do melhor filme, da melhor amiga, do
livro que mais me marcou. A lista das coisas de que gostamos vai sempre se actualizando ao ritmo das coisas que passam
por nós, que mais não são que o ritmo da própria vida, vivida a vários tempos.
O que me emocionou ontem não será o mesmo que me emocionará amanhã, e este
simples facto é tão certo como respirar ou andar. Claro que alguns livros
permanecem sempre na nossa memória, tal como as memórias das pessoas que nos
marcaram e as próprias pessoas que gostamos. Dizia Virgílio Ferreira que
enquanto a memória perdurar nós existimos sempre para outro alguém e essa é uma
verdade que não podemos negar.
Mas estranhamente, e eu não sou de acreditar em misticismos,
sempre que alguma acontecimento define a minha vida, entro no carro e a mesma
música surge. Confesso que já me arrepia, não a frequência com que ouço a música
porque tal não ocorre, mas porque quando esta música me aparece na telefonia do
carro o momento de onde vim é marcante. E o raio da música toca sempre. Foi a
música que tocou quando entrei na Universidade de Évora, foi a música que tocou
quando a abandonei para sempre, foi a música que tocou no dia da operação do
meu pai, foi a música que tocou neste domingo depois de uma reunião diferente e
produtiva. E foi a música que tocou quando me despedi da minha casa e mudei
para outra. Se isto não é premonitório,
então não sei o que é. Se há uma música que é a música da minha vida só pode
ser esta porque se entranhou e não quer sair. E qual é a música? Bem, mais
premonitória não podia ser: O Primeiro dia, do Sérgio Godinho.
Porque este é o primeiro dia do resto da minha vida?
https://www.youtube.com/watch?v=Aj7rPPMiDSo&list=RDAj7rPPMiDSo
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